Na minha peregrinação por Fritz Lang, passo por este JESSE JAMES (1939), que Henry King dirigiu em sua casa, a Fox. Isso porque, um ano depois, Lang seria contratado para dirigir a continuação, A VOLTA DE FRANK JAMES. Mas isso é assunto para um próximo post. Falemos, então, desta produção muito bonita, o primeiro western em cores produzido em Hollywood, feito em um ano particularmente brilhante para o cinema americano, o mesmo ano de ...E O VENTO LEVOU e O MÁGICO DE OZ, ambos creditados a Victor Fleming, NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS, de John Ford, NINOTCHKA, de Ernst Lubitsch, A MULHER FAZ O HOMEM, de Frank Capra, entre outros. Foi um ano glorioso que encerrou um momento luminoso para o cinema americano. Esse mesmo cinema que se tornaria sombrio na década seguinte, por ocasião da grande guerra que passou a assombrar o mundo.
Quanto a JESSE JAMES, é um filme que traz uma visão mais romântica do fora-da-lei, trazendo uma temática comum à época, de injustiças sociais, e introduzindo um motivo plausível para que Jesse (junto com seu irmão Frank) se tornassem pouco queridos pelas autoridades e pelos grandes empresários da época, especialmente o dono da empresa de ferrovia, que é talvez o grande vilão do filme. O xerife, interpretado pelo sempre simpático Randolph Scott, não é o antagonista de Jesse, mesmo sendo claramente interessado na namorada/esposa do rapaz.
Nem mesmo o sujeito que ganhou fama por ter matado Jesse, Bob Ford (vivido por John Carradine), pode ser considerado seu antagonista, tão desprezível o sujeito é. Aliás, é curioso como o personagem é desprezível também em alguns outros filmes que abordam essa história, como o mais recente O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD, de Andrew Dominik. Só mesmo Samuel Fuller quis entrar mais na pele do sujeito quando fez sua obra-prima MATEI JESSE JAMES, em 1949.
No JESSE JAMES de Henry King, Jesse é um bom rapaz vivido por Tyrone Power, que, junto com o irmão Frank (Henry Fonda), tentam defender a mãe da exploração da empresa que estava "comprando" as fazendas da região por uma ninharia para poder passar com os trilhos e construir também as estações. Este é um filme que, diferente de muitos outros que enaltecem o progresso que foi a chegada do trem nos Estados Unidos, olha para as pessoas que foram prejudicadas nesse processo. E, segundo o filme, foi a partir de um embate com um homem de mau caráter que estava pressionando a assinatura das pessoas da região para que abrissem mão de suas propriedades que Jesse e Frank começaram sua jornada de foras-da-lei.
Aos poucos, Jesse e Frank vão se tornando mais marginalizados. Principalmente Jesse, quando, para vingar a morte da mãe, atira e mata um homem. Não demora para que os dois formem um bando que passa a assaltar trens e bancos. Ao mesmo tempo, estabelece-se uma relação de forte afeto de Jesse com Zee (Nancy Kelly). Os dois se casam pouco antes de Jesse se entregar à polícia, a partir de um acordo que limparia seu nome depois de passar no máximo uns cinco anos na prisão. Ao ver que se tratava de uma cilada e que ele seria enforcado, o irmão consegue um meio de tirá-lo da cadeia. Até esse momento, o filme para mim estava perfeito. Depois, acho que perde um pouco a força e tem o seu ritmo prejudicado.
Quanto a Henry King, é curioso como é um cineasta pouco querido pelo pessoal adepto da teoria dos autores, talvez por ser mesmo "apenas" um respeitado artesão e ter uma versatilidade tão grande que acaba não transparecendo nenhuma obsessão. Não sei se existe do ponto de vista formal. Ainda assim, existem alguns defensores ferozes do trabalho de King, como Jacques Lourcelles, que o compara a seus contemporâneos, Allan Dwan, John Ford, Raoul Walsh e Cecil B. DeMille. Todos eles foram pioneiros, homens que ajudaram a construir o cinema hollywoodiano. Só isso já é o bastante para valorizarmos e estarmos mais atentos a ele.
JESSE JAMES foi um filme que fez bastante sucesso nas bilheterias, ganhou a já mencionada continuação por Fritz Lang e, mais à frente, um remake dirigido por Nicholas Ray, chamado QUEM FOI JESSE JAMES, em 1957.
+ TRÊS FILMES
THE EASTWOOD FACTOR
Tentei dois filmes diferentes anteontem e estava um pouco impaciente. Resolvi pegar este documentário sobre um dos maiores cineastas vivos. O diretor é um especialista em biografias e principalmente em docs sobre o Clint. Este aqui, de 2010, naturalmente cobre sua obra até INVICTUS (2009), um dos filmes dele de que menos gosto. Pra mim foi muito bom rever e me emocionar de novo com trechos de filmes como UM MUNDO PERFEITO (1993) e MENINA DE OURO (2004), e ver o quanto eu preciso ver certas coisas dele que ainda não vi e outras que preciso rever, principalmente AS PONTES DE MADISON (1995). Talvez na época que o vi eu precisasse me identificar com personagens mais jovens e não era o caso. Acho que agora já estou velho o suficiente. :) Curioso como certos filmes foram esnobados, preferiram nem tocar no assunto, talvez para que o documentário não ficasse tão maçante. Uma pena que o diretor do doc não seja tão preciosista com relação às janelas de aspecto. É tanta coisa esticada, cortada, que chega a incomodar. Atenção: há spoilers a dar com pau. Quem não tiver visto os filmes pode prejudicar a apreciação, pois mostra os seus finais. Direção: Richard Schinckel.
BLOW THE MAN DOWN
Um filme que tem, a princípio, um sabor daqueles suspenses dos anos 1970, quando o princípio da trama lida apenas com o esforço de duas irmãs de tentar se livrar do corpo de um homem morto por uma delas. Mas o filme aos poucos vai se mostrando mais complexo em seu enredo, trazendo mais mistérios e mais segredos para aquela comunidade litorânea e fria. Interessante o uso de pescadores cantando em determinados momentos, como se fossem um coro de tragédia grega. A atriz que faz a irmã mais nova é conhecida de quem assistiu a HOMELAND. Ela interpretou a filha do Sargento Brody. Direção: Bridget Savage Cole e Danielle Krudy. Ano: 2019.
RIFLE
Gosto do andamento do filme até certo momento, e do clima de espaço fantasma, e também da utilização de não-atores para a construção da trama, feita por alguém que realizou algo tão bom como CASTANHA (2014). Mas aqui a conclusão é insatisfatória. O filme, mesmo curto, parece ser maior do que é. Direção: Davi Pretto. Ano: 2016.
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