Segundo filme anti-nazista de Fritz Lang, OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM (1943) foi realizado no calor do momento, quando a Segunda Guerra Mundial estava explodindo na Europa e no Pacífico. Ao contrário de seu trabalho anterior, O HOMEM QUE QUIS MATAR HITLER (1941), que tinha uma cara de produção hollywoodiana, OS CARRASCOS...tem uma aproximação maior com o clima dos primeiros filmes falados de Lang na Alemanha, M - O VAMPIRO DE DUSSELDÖRF (1931) e O TESTAMENTO DO DR. MABUSE (1933), inclusive pela utilização de pouca música.
Isso acaba por afastar o filme do melodrama e aproximá-lo de um realismo histórico, de uma vontade de torná-lo o mais urgente possível. A própria ideia do filme nasceu de uma notícia real: a do assassinato do odiado carrasco Reinhard Heydrich, o "Reichsprotektor" da Tchecoslováquia. O sujeito foi um dos arquitetos do holocausto e foi uma vitória e tanto da resistência ter conseguido executá-lo em uma missão muito perigosa. A alegria pela morte dele é bastante sentida na cena do cinema, quando um sujeito entra na sala escura e passa a informação para outro, que passa para outro etc. E depois eles começam a bater palma no meio da sessão.
Lang faz mais uma vez um filme sem se importar com protagonistas. Há vários personagens e a trama parece ser árida, mas o cineasta tem a habilidade de fazer a narrativa tão empolgante, e também de nos deixar indignados com os atos terríveis dos nazistas, que as mais de duas horas passam rapidamente. Os personagens que mais se aproximam de serem os protagonistas são o médico que mata o carrasco, vivido por Brian Donvely; a moça que o abriga e que o livra da Gestapo, vivida por Anna Lee; e o professor que é pai dela (Walter Brennan).
Além deles há vários outros personagens, tanto do lado da Tchecoslováquia, como do lado dos alemães. Há pelo menos três personagens nazistas de destaque. E um traidor da resistência infiltrado no submundo, que passa a ser mais odioso que os próprios nazistas e se transforma no grande vilão, por sua covardia, por mais se comparar a um verme do que a um homem.
Mais uma vez, Lang prefere não mostrar a violência física, mas acredito que aqui ele consegue nos deixar bastante desconfortáveis, principalmente em uma cena em que um oficial nazista maltrata uma senhora (que claramente já foi torturada), mandando-a apanhar um pedaço da cadeira que cai com frequência. Suas costas doem e é possível estar um pouco nos sapatos daquela mulher, que segue bravamente não entregando nomes da resistência.
Sim, trata-se de um filme que enaltece a coragem dos inimigos dos nazistas, não apenas da Tchecoslováquia, mas, como a história se passa toda em Praga, eles são os que recebem os holofotes. A beleza da união é tanta que até mesmo uma mentira se torna um objeto de nobreza. No caso, a mentira é para tornar culpado o traidor da resistência e, consequentemente, tirar da prisão os vários reféns que já estavam sendo executados em um curto período de tempo.
O roteiro é de simples compreensão para uma história de espionagem e com tantos personagens. Mas vejo isso como um mérito de Lang. Tornar didático era necessário em tempos tão urgentes e tão desesperadores, como foram esses anos da Segunda Guerra Mundial. E como havia a liberdade de tratar do assunto em Hollywood, não havia sentido fazer filmes cifrados ou de tramas mais complexas.
OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM entrou em cartaz depois de duas quase realizações de Lang na Fox. Nas duas ocasiões, as produções foram assumidas por Archie Mayo. Na primeira, Lang entrou com um atestado de oito dias por causa de uma crise de vesícula. Na outra, houve problemas com o protagonista francês (Jean Gabin), que namorava Marlene Dietrich, que também já teve um caso com Lang.
A ideia do filme surgiu de uma conversa de Lang com o dramaturgo Bertold Brecht, que começou a escrever o roteiro junto com o cineasta e com outro roteirista, que falava tanto inglês quanto alemão, John Wexley, que queria que todos os créditos do roteiro fossem para ele. No fim, por conta de desentendimentos entre os três, Brecht voltou para a Europa e saiu um tanto chateado com o ocorrido. Uma das cenas que Brecht achava de mau gosto era a do líder da resistência estar escondido ferido detrás de uma cortina, enquanto um oficial nazista faz a busca em um apartamento. Ele tinha lá suas razões, mas a cena é eficiente.
+ TRÊS FILMES
ÉDEN
O filme me atraiu mais pelo trio de atores (Júlio Andrade, Leandra Leal, João Miguel). Já fazia um tempo que queria ver e aí apareceu essa versão em HD. Me incomodou um pouco o jeito exageradamente caricato com que pintou os pentecostais. E tirando uma cena que mostra justamente um momento de beleza dentro da igreja, os demais me pareceram muito cínicos. E ainda tem aquele arrastar do filme para que dure mais de uma hora. E no final ainda não emocionar nada. Mas gostei de ter visto. Direção: Bruno Safadi. Ano: 2013.
O QUARTO DOS ESQUECIDOS (The Disappointments Room)
Meu Deus do Céu! Que filme ruim! A gente já sabe que está vendo um lixo logo no começo e torce para que os minutos seguintes passem logo. Não que seja uma tortura, mas é um troço que eu não recomendo pra ninguém. Direção: D.J. Caruso. Ano: 2016.
A COMUNIDADE (Kollektivet)
A condução da narrativa é boa, mas parece sempre estar faltando alguma coisa. O drama dos personagens é falho, exceto talvez pela filha adolescente do casal principal. Gosto da reconstituição de época, da trilha e de alguns momentos pontuais, mas Thomas Vinterberg parece querer recuperar o seu grande momento em FESTA DE FAMÍLIA (1998) e mais uma vez não consegue. Dá pra ver com interesse. Ano: 2016.
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