domingo, julho 12, 2020

MURDER À LA MOD

Tempos atrás comprei um livrinho de entrevistas muito interessante chamado My First Movie, editado por Stephen Lowenstein, contendo entrevistados com vários cineastas falando sobre seus primeiros longas-metragens. Infelizmente não dei seguimento à leitura, embora tenha resultado em uma linda revisão de GOSTO DE SANGUE, dos irmãos Coen. Que, aliás, ainda é o melhor filme da dupla. Mas sabemos o quanto esse tipo de estreia que chega chutando portas é raro. Vários cineastas gigantes teriam ainda que lapidar o seu estilo, fazendo ainda filmes menores e que só mais adiante seriam vistos como obras fundamentais para entender o processo de maturação do seu corpo de trabalho.

É o caso de MURDER À LA MOD (1968), primeiro filme lançado nos cinemas de Brian De Palma. Não foi o primeiro gravado: FESTA DE CASAMENTO (1969), lançado um ano depois, já havia sido rodado em 1963. De qualquer maneira, tratava-se de uma obra que era assinada por De Palma e mais dois diretores. Portanto, MURDER...seria seu primeiro trabalho solo. E que realmente tem muito do que ele faria a partir de IRMÃS DIABÓLICAS (1972), quando o interesse pelo suspense e pelas homenagens a Alfred Hitchcock seriam mais explícitas. Este seu primeiro trabalho solo também carrega influências fortes de Jean-Luc Godard e o estilo também revela um gosto pelo giallo produzido nos anos 1960, com um uso muito bonito do gore.

As primeiras cenas do filme nos deixam um tanto desconfortáveis. Somos apresentados a imagens de gravações de filmes pornográficos em que o diretor pede para jovens estreantes anônimas tirarem suas roupas para a câmera. Elas se sentem desconfortáveis, uma delas pergunta: "isso é para ser sexy?", enquanto a voz diz para ela se apressar, pois o filme já está rodando. Rolos de filmes custavam muito caro na época, diferentemente da realidade do momento de hoje, com o digital imperando e barateando os custos.

O voyeurismo, tema constante na obra do cineasta, já se mostrava presente desde os primeiros minutos. Não é apenas o jovem diretor e suposto assassino que é o voyeur, mas também pessoas que trabalham no estúdio dele. A própria namorada se apresenta muito interessada no filme que ele está rodando. Quase implora para que ele retome a projeção, depois que ele para, em certo momento. O espectador, então, nem se fala.

Nota-se neste filme de De Palma um estilo ao mesmo tempo despojado, sem uma preocupação muito forte com interpretações. Seu elenco não precisava ser tão bom, ainda que eu goste de Andra Akers, mas talvez por sua beleza e doçura. Mas o capricho com as imagens já era algo muito presente. Tanto pela beleza plástica das imagens em preto e branco e da elegância que aquela década trazia, mas por um interesse em construir uma trama intrincada e muito atraente, que me fez lembrar de O GRANDE GOLPE, de Stanley Kubrick, mas que também pode trazer à tona um dos trabalhos mais recentes de De Palma, OLHOS DE SERPENTE (1998). Isso se deve à brincadeira com o uso do tempo (narrativa não-linear) e do ponto de vista, e que ajuda a tornar o filme sempre fresco, à medida que cada ato vai chegando ao fim e dando início a outro. Mais ou menos o que faria também Quentin Tarantino em seus primeiros filmes.

+ TRÊS FILMES

POSSESSOR

Na falta de David Cronenberg, que não lança um novo filme há vários anos, podemos agora ter contato com o trabalho de seu filho, que, neste título, pelo menos, carrega o DNA do pai. Há bastante semelhança com EXISTENZ e um pouco com VIDEODROME também. Começo a gostar mais do filme quando a missão da personagem de Andrea Riseborough chega ao corpo do personagem de Christopher Abbott. Talvez o final seja problemático, talvez eu apenas tenha achado confuso, mas é um cinema que também abraça justamente essa confusão, o estado alterado do ser. A cena que reproduz o cartaz do filme é o que melhor representa isso. Diretor: Brandon Cronenberg. Ano: 2020.

MÃE SOLTEIRA (Not Wanted)

O primeiro filme com a direção de Ida Lupino aconteceu por acidente, devido à morte do veterano Elmer Clifton. Mas Lupino já estava bastante envolvida, já que era roteirista e produtora. O filme é um pouco quadrado, mas há momentos brilhantes. Além do mais, a questão da mulher solteira nos Estados Unidos talvez fosse um assunto bem novo. Se bem que havia sido tocado de relance em O GAROTO, do Chaplin. Ano: 1949.

A GAROTA NO TREM (The Girl on the Train)

O filme começa intrigante, mas depois o diretor não consegue dar conta da história e tudo fica frouxo e pouco interessante. Até a interpretação da Emily Blunt está ruim. Aliás, ela acaba sendo a pior coisa do filme. Que já nem é lá essas coisas. Mais parece um daqueles telefilmes que passavam no Supercine. Direção: Tate Taylor. Ano: 2016.

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