domingo, dezembro 27, 2009

VIDEODROME – A SÍNDROME DO VÍDEO (Videodrome)






















Acho que não há outro filme que ingresse de maneira tão rápida no subconsciente quanto VIDEODROME - A SÍNDROME DO VÍDEO (1983). Já vi esse filme em vhs antes, mas é impressionante como a memória dele desaparece rápido. No dia que fui rever, deixei para continuar no dia seguinte por causa do horário. No dia seguinte, tive que rever boa parte do começo para que minha memória fosse lembrando o que tinha visto na noite anterior. É como se fosse um sonho transformado em filme. E um filme imediatamente transformado em sonho. Como aqueles sonhos confusos que a gente tem e quer se lembrar, mas surgem apenas flashes, que vão se apagando rapidamente ao longo do dia. Se há alguma dúvida do quanto o cinema e o sonho podem andar juntos ou se assemelharem, ela pode ser tirada com esse exemplar de David Cronenberg.

Mas essa não é a única qualidade de VIDEODROME. Eu me vi diante de uma obra que antecipava o nosso futuro – ou o nosso presente. Se CALAFRIOS (1975) e ENRAIVECIDA - NA FÚRIA DO SEXO (1977) antecipavam a AIDS, VIDEODROME antecipa as doenças do nosso momento atual, ligadas à depressão, síndrome do pânico, TOC, delírios, bem como a presença massiva da tecnologia na vida social, com a ascensão dos sites de relacionamento e o cada vez maior distanciamento da presença física nas relações. Por mais confuso que possa ser o filme, ele me pareceu um convite para a reflexão sobre esse momento. Cronenberg, um homem com uma obsessão e um sentido de estranhamento pelo corpo, faz uma espécie de elogio do carnal. Ainda que seja uma nova carne. "Long live the new flesh", diz o personagem de James Woods ao final do filme, um dos mais impactantes da carreira de Cronenberg.

VIDEODROME é uma sucessão de imagens de delírio, que crescem à medida que o filme vai chegando à sua conclusão. Como uma abertura na barriga de Woods semelhante a uma vagina ou uma arma surgindo de dentro da televisão. No começo, vemos o personagem de Woods, um produtor de um canal a cabo especializado em sexo que fica muito interessado em imagens supostamente captadas de uma tv pirata. São imagens de agressão física e tortura, que não tem nada de sexo, mas cujo conteúdo pode ser de natureza fetichista para muitos, inclusive para o protagonista, que fica querendo cada vez mais imagens do tal canal misterioso, o videodrome. Ele encontra uma garota que tem tendências masoquistas, vivida por Debbie Harry. Ela gosta, por exemplo, de queimar o próprio seio com cigarro e na primeira noite que se encontram pede para que ele lhe corte. A trama vai se tornando cada vez mais intrincada quando Woods passa a investigar mais a fundo o tal videodrome. E o filme vai ficando cada vez mais delirante. Definitivamente, um de meus favoritos de David Cronenberg.

VIDEODROME foi um fracasso de bilheteria quando lançado nos Estados Unidos. Provavelmente por não ter um lançamento apropriado. Nas exibições-teste, o público, não acostumado a tanta estranheza, reagiu de forma até violenta nos cartões onde se deixava as impressões. Isso eu soube através do livro "Cronenberg on Cronenberg", onde o autor fala de maneira até passional sobre alguns escritores que morreram sem saber que alcançariam respeito, como Whitman, Melville, Hawthorne, Poe. Todos eles morreram pensando que seus trabalhos não significavam nada. Lendo isso, eu também fiquei indignado e triste.

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