terça-feira, dezembro 08, 2009

ABRAÇOS PARTIDOS (Los Abrazos Rotos)























Parece que a intenção de Pedro Almodóvar de voltar às origens com VOLVER (2006) se confirma com o novo ABRAÇOS PARTIDOS (2009), que retoma o gosto do cineasta pelo mistério, utilizado em duas de suas obras da década de 80, MATADOR (1986) e A LEI DO DESEJO (1986). Mesmo fazendo referência ao passado, os novos filmes de Almodóvar são obras de um cineasta maduro, um mestre em pleno domínio da técnica, só torcendo para que os bons ventos tragam não apenas ideias brilhantes, mas também inspiração durante a realização.

Mas por mais que a tentação de ficar fazendo comparações com suas outras obras seja forte, o ideal é mesmo encarar ABRAÇOS PARTIDOS como uma obra única, independente, por mais que isso seja difícil, já que tudo parece tão conectado. Antes de mais nada, no novo filme, nos vemos diante do personagem masculino mais bem construído da carreira do cineasta: o diretor de cinema cego interpretado por Lluís Homar. Ele é um personagem trágico, cuja história pessoal vai se descortinando à medida que o filme vai nos apresentando a dois tempos: o ano de 2008, quando somos apresentados a Harry Caine, o protagonista, um homem cego que já foi um cineasta bem sucedido no passado, mas que convive com naturalidade e resignação com sua deficiência; e os acontecimentos em torno de Lena, a personagem de Penélope Cruz, quatorze anos atrás, quando ela sofria com o pai com câncer e era assediada por seu patrão. As duas tramas se completarão através do flashback narrativo de Lluís Homar, contando de seu relacionamento passado com uma jovem atriz chamada Madalena.

Um dos momentos mais belos do filme é aquele em que Harry Caine fala da vontade que ele tem de fazer um filme sobre Arthur Miller, o dramaturgo que foi casado com Marilyn Monroe e que teve um filho com síndrome de down. Ele abandonou a criança, negou a existência do filho, tirando-o até mesmo de sua autobiografia. E o que acontece quando o filho se encontra com o pai é totalmente o oposto de uma história de vingança ou rancor. Trata-se de uma história de perdão. Diferente do que tenta fazer um jovem que visita Harry e quer que ele faça um filme com a intenção de destruir moralmente o próprio pai.

Na verdade, tudo que acontece antes e depois do flashback não é tão forte quanto o que acontece durante. A comovente história de amor entre Mateo Blanco (seu nome, antes de adotar o pseudônimo Harry Caine) e Lena é o que move a trama e também o momento em que o filme acelera um pouco o ritmo, mas sem se tornar irregular. O gosto por contar histórias já era bem aparente desde o início da carreira de Almodóvar, mas o contar, o uso das palavras, é ainda mais acentuado no novo filme, através da narração de Harry. Afinal, ele como um homem privado daquilo que mais amava - as imagens - precisa se apegar à palavra falada. Para assim poder criar imagens em sua mente. É assim que ele faz sexo com uma jovem no começo do filme, perguntando a ela detalhes de sua aparência. Para ele, a imagem é fundamental. E um dos grandes momentos do filme acontece quando Harry/Mateo toca com as mãos a tela que captura a imagem de Lena. É um dos momentos de maior beleza de ABRAÇOS PARTIDOS. E Penélope Cruz se confirma como uma das grandes musas do cinema na atualidade.

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