sexta-feira, dezembro 18, 2009

FUGA DO PASSADO (Out of the Past)























O documentário THE RULES OF FILM NOIR, produzido pela BBC e comentado recentemente aqui no blog, me deu um empurrãozinho para que eu retomasse a apreciação de alguns dos filmes mais importantes desse gênero glorioso. FUGA DO PASSADO (1947), de Jacques Tourneur, tem uma trama que até certo momento me fez lembrar MARCAS DA VIOLÊNCIA, de David Cronenberg. Ambos trazem um protagonista que vive uma vida pacata numa cidadezinha americana até o dia que o passado volta para assombrá-lo. E a diferença aqui é que esse passado é contado em flashback pelo protagonista (Robert Mitchum) com toda a classe que os melhores filmes desse ciclo possuiam. E que prazer que é ver este universo misterioso se descortinando aos poucos.

Assim como os melhores fimes do gênero, FUGA DO PASSADO também mostra um destino trágico para seu protagonista. E apesar de termos, entre as três importantes mulheres do filme, uma que representa a segurança, a estabilidade, a paz, a que mais atrai é a mais perigosa (Jane Greer), aquela em quem você não pode confiar. No longo flashback, Mitchum recebe uma missão de seu chefe, vivido por Kirk Douglas, de encontrar uma mulher. Obviamente, ele se apaixona por ela e entra numa fria. Ele diz para si mesmo que ela foi a melhor coisa que lhe aconteceu e também a pior.

O mais belo de FUGA DO PASSADO é talvez a forma poética com que Tourneur conduz o filme. Os diálogos são um espetáculo à parte, como quando Greer pergunta para Mitchum, num cassino, se há uma maneira de ganhar e ele diz: "há uma maneira de perder mais lentamente." Tudo no filme exala fatalidade e pessimismo. Mas apesar de tudo isso, os personagens nadam contra a maré, a fim de permanecerem o maior tempo possível vivos, mesmo sabendo que a qualquer momento algo de ruim surgirá ali, batendo à porta. Mesmo uma personagem com uma moral tão questionável como a de Jane Greer é apreciada pela plateia.

Jacques Tourneur é um cineasta que poderia ser mais lembrado como um dos maiorais, afinal, ele foi o realizador de grandes obras como SANGUE DE PANTERA (1942), A MORTA-VIVA (1943) e A NOITE DO DEMÔNIO (1957) - este último, ainda não vi.

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