segunda-feira, outubro 21, 2013

TABU























Um dos elementos mais recorrentes na cultura portuguesa é a melancolia. Até mesmo sua maior obra épica literária, Os Lusíadas, de Luis de Camões, se encerra em tom de tristeza. E se esse elemento está presente na poesia, também aparece muito frequentemente no cinema. Faz parte do espírito português e talvez por isso eles sejam melhores poetas do que nós, brasileiros.

O caso de TABU (2012), um dos mais incensados filmes dos últimos anos pela crítica cinematográfica ocidental, é bem representativo dessa melancolia. A palavra, que é tão presente também no cinema português (vide UM FILME FALADO, de Manoel de Oliveira), surge como elemento lírico, em especial na segunda parte de TABU, intitulada "Paraíso". Ao contrário do homenageado TABU (1931), de F.W. Murnau, há na produção de Miguel Gomes uma inversão na ordem dos títulos das duas partes que dividem a obra.

No filme português, a primeira parte se entitula "Paraíso Perdido" e nos apresenta inicialmente três senhoras. Uma delas, Pilar (Teresa Madruga), mora sozinha e é católica fervorosa (aparece sempre rezando). Sua vizinha é uma senhora idosa de nome Aurora (Laura Soveral), que é cuidada por Santa (Isabel Cardoso), uma senhora cabo-verdiana que recebe ordens da filha ausente de Aurora.

Vale destacar o catolicismo como outro elemento bastante presente no cinema português, e que contribui para oferecer a imagem de um país velho, com um peso imenso do tempo a carregar sobre os ombros. Como se fosse um país que não acompanhou a modernidade dos séculos. Paradoxalmente, a segunda parte do filme, um longo flashback em forma de cinema mudo e que volta no tempo para a juventude de Aurora, é carregado de frescor e modernidade, tanto por causa dos personagens jovens quanto por suas aventuras ousadas.

No caso, uma dessas aventuras seria ousada demais: o caso de amor entre a jovem Aurora (Ana Moreira) e o músico Ventura (Carloto Cotta), quando Aurora já estava casada e grávida, no tempo em que vivia com o marido em uma colônia portuguesa na África, em um monte chamado Tabu. Toda esta segunda parte em forma de cinema mudo conserva os ruídos dos carros e da natureza, por exemplo, e é narrada pela voz do velho Ventura (Henrique Espírito Santo). Sua voz suave e frágil destoa do sentimento intenso daqueles tempos e que é muito bem representada pelas imagens.

O sentimento de paixão avassaladora é tanto que é possível dizer que nunca a canção "Be My Baby", de Phil Spector e das Ronettes, aqui em versão em espanhol, pareceu tão bela e dolorosa. A canção aparece nas duas partes do filme. Duas partes bem distintas entre si, quase como se fossem dois filmes diferentes. Pode-se dizer que a segunda parte é a que mais importa, a que mais homenageia o filme de Murnau e que é mais carregada de emoção, mas a primeira é também um trabalho lindo de composição, de construção de uma atmosfera de solidão que personagens mais velhos e sozinhos enfrentam.

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