domingo, setembro 15, 2013

OS POBRES DIABOS























Depois da cerimônia de premiação, que escolheu como melhor longa-metragem o espanhol (basco) EMAK BAKIA, de Oskar Alegria, neste sábado, foi exibido fora de competição OS POBRES DIABOS (2013), o novo filme de Rosemberg Cariry. É o seu retorno ao cinema de ficção, depois de alguns anos se dedicando aos documentários. OS POBRES DIABOS trata de uma trupe de saltimbancos.

Com inspiração nas lembranças dos circos itinerantes que o diretor via na infância e na literatura de cordel, especialmente nas sequências que mostram o espetáculo que brinca com a estadia de Lampião e Maria Bonita no inferno, OS POBRES DIABOS, em seus momentos finais, faz uma clara alegoria ao cinema brasileiro, em grande maioria, distribuído em poucas cópias e que "ninguém" vê. Seria também uma espécie de desabafo do próprio Cariry com suas produções, pouco valorizadas inclusive em seu estado natal.

Trata-se de um de seus trabalhos mais bem produzidos, com um capricho visual louvável, assim como o uso do som. Porém, algumas belas panorâmicas usadas, por exemplo, em CORISCO E DADÁ (1996), não se fazem presentes em OS POBRES DIABOS. Aqui há o uso da câmera parada, até por causa do equipamento digital, e pela preferência pela mise-en-scène. A fotografia também adota cores quentes, que contribuem tanto para enfatizar a luminosidade do interior do Ceará (no caso, uma região de Aracati), quanto para fazer referência aos diabos apresentados no espetáculo, no caso do uso do vermelho.

Talvez o problema do filme esteja mais em seu histrionismo. A teatralidade é um tanto excessiva, dentro e fora do circo, especialmente em sua segunda metade. As próprias sequências em que o personagem de Gero Camilo tenta flagrar sua esposa Creuza (Silvia Buarque) com o amante (Chico Diaz) são um exemplo de que o teatral está presente também na rotina dos personagens, nos bastidores, quando eles ainda estão vestidos de diabos.

Cariry faz um cinema que privilegia mais a interpretação do que o enredo e, para que funcione, é necessário uma direção precisa e inspirada, além de excelentes interpretações. OS POBRES DIABOS quase chega lá. Ainda assim é um filme admirável, na forma como um crescendo de barulho e caos vai tornando a vida daqueles personagens cada vez mais infernal.

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