quarta-feira, janeiro 11, 2006

HOWARD HAWKS EM DOIS FILMES

 

Uma vez que a gente se familiariza com o cinema de Howard Hawks torna-se quase impossível não amar seus filmes. Foi bom demais ver tão perto um do outro os westerns-irmãos EL DORADO (1967) e RIO LOBO (1970). O ideal seria também ter revisto o incensado RIO BRAVO (1959), que vi numa época em que não era fã de Hawks. Tenho certeza que revendo hoje eu iria gostar muito mais. Fica pra uma próxima vez. Por enquanto, estou dando por encerrada essa minha primeira peregrinação pela obra do diretor. Também terminei de ler a deliciosa entrevista que Hawks deu a Peter Bogdanovich, contida no livro Afinal, Quem Faz os Filmes. É, com certeza, uma das melhores entrevistas do livro, até pelo fato de que toda a filmografia do homem é comentada, do primeiro ao último filme. 

EL DORADO e RIO LOBO são dois filmes derivados de RIO BRAVO, quase remakes. Ambos contêm uma cena no qual os heróis ficam acuados dentro de uma delegacia, enquanto os bandidos ameaçadores estão do lado de fora. Os três filmes são protagonizados por John Wayne. 

EL DORADO 

Provavelmente a última obra-prima de Hawks. E o último filme onde podemos ver com força total a rapidez e agilidade típicas do diretor. No filme, John Wayne é um dos melhores pistoleiros da região que visita o seu amigo xerife de El Dorado (Robert Mitchum). Por questões éticas, ele acaba desistindo de cumprir um serviço na cidade e por causa disso, ele acaba levando um tiro nas costas. O médico não consegue tirar a bala, alojada próxima à espinha, e por isso, com certa freqüência Wayne tem espasmos de dor seguidos de uma paralisia. Depois de algum tempo, ele retorna a El Dorado, dessa vez ao lado de seu novo amigo Mississipi (James Caan) - Hawks tinha que manter a sua tradição em botar apelidos nos personagens. Mississipi era um sujeito que sabia manejar bem uma faca, mas era péssimo no uso de uma arma. Chegando na cidade, Wayne descobre que seu amigo (Mitchum) havia se tornado um alcóolatra. Tudo culpa de uma mulher que havia lhe abandonado. Seu principal companheiro era um velho que se orgulhava de ter lutado contra índios no passado. Imagina só: um pistoleiro com uma bala alojada, um xerife alcóolatra, um jovem que não sabe atirar e um ancião. Quando os quatro têm que lutar contra os bandidos lá perto do final do filme, não tem como não ficar emocionado. EL DORADO é um dos filmes que trazem mais forte o sentimento de heroísmo. Emocionante o tiroteio final. E adoro o epílogo também, com os dois amigos, cada um com uma muleta, andando pelas ruas de El Dorado. O humor de Hawks eleva o nosso espírito. Eu ria com prazer cada vez que Mitchum perguntava a Wayne quem diabos era Mississipi. Não poderia faltar a mulher hawksiana, aqui representada por duas: Charlene Holt e Michele Carey. 

RIO LOBO 

Esse filme é basicamente dividido em duas partes. A primeira funciona como um western de cavalaria. John Wayne é um coronel durante a Guerra Civil. Ele precisa deter um grupo de rebeldes que assalta o ouro de um trem. Essa primeira seqüência é eletrizante. Depois dela, o filme diminui um pouco o ritmo, dá uma travada. O que não deixa de ser coerente com o envelhecimento tanto de Hawks quanto de Wayne. Aliás, o tema da velhice está bastante presente em todo o filme. Assim como o termo "confortável" é usado para descrever Wayne em certa ocasião, coisa que ele não vê como um elogio. Quando acaba a guerra, o filme muda de tom. Até parece um outro filme, dessa vez mais parecido com EL DORADO e RIO BRAVO. Essa sensação de repetição me deu um certo bem estar, senti-me confortável. Fiquei surpreso quando li na entrevista de Hawks que ele não gostou de Jennifer O'Neill. Eu achei-a, além de linda, encantadora. Pode não ser a melhor mulher dos filmes de Hawks, mas talvez seja a mais bela. E Jennifer nasceu no Brasil, vejam só. A atriz é mais conhecida pelo papel principal de VERÃO DE 42 (1971). Nessa época, ela devia estar no auge da beleza. Tem uma cena no filme de Hawks que eu achei bem interessante: quando ela zomba do romantismo meloso de Jorge Rivero que lhe pede "um último beijo antes de morrer", quando os dois estão debaixo de uma cama. Bem Hawks isso. Assim como é bem do diretor, o fato de a mulher tomar a iniciativa. É ela quem beija Rivero primeiro. Já Wayne, assumindo a velhice, ficou sem par nesse filme. 

Sobre RIO LOBO, recomendo um excelente texto de Filipe Furtado, publicado na Contracampo já há algum tempo. O texto é um pouco longo (8 páginas, letra pequena), mas vale a pena ler, especialmente quem já viu os principais filmes de Hawks. O texto do Filipe é sóbrio, mas o amor pelos filmes de Hawks está bem evidente. 

Pra terminar, arrisco um top 10 do diretor, com base nos (apenas) 14 filmes que assisti dele:

1. HATARI! (1962)
2. RIO VERMELHO (1948)
3. O PARAÍSO INFERNAL (1939)
4. EL DORADO (1967)
5. LEVADA DA BRECA (1938)
6. JEJUM DE AMOR (1940)
7. UMA AVENTURA NA MARTINICA (1944)
8. RIO BRAVO (1959)
9. SCARFACE (1932)
10. TERRA DOS FARAÓS (1955)

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