segunda-feira, março 28, 2016
CONSPIRAÇÃO E PODER (Truth)
Estamos vivendo um momento em que o imediatismo e a vontade de estar sempre à frente do concorrente ou adversário supera até mesmo a ética profissional. Isso é muito comum ocorrer no jornalismo, pois conseguir chegar primeiro na notícia, obter o "furo", é tido como uma vitória e tanto. Em SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS, o vencedor do Oscar de melhor filme deste ano, vimos algo parecido, mas a diferença é que o trabalho daqueles jornalistas levou tempo e foi à fundo na matéria em questão, a fim de oferecer ao leitor um trabalho completo, responsável e respeitável.
CONSPIRAÇÃO E PODER (2015), estreia na direção do roteirista James Vanderbilt, mostra o que acontece quando a pressa para entregar uma matéria, bem como a falta de uma melhor autocrítica e maturação do objeto de pesquisa, pode acarretar. O caso, envolvendo o histórico de George W. Bush na Guarda Nacional, nem é tão interessante assim. O que importa na história é o quanto, da noite para o dia, uma das provas apresentadas passa a ser questionada primeiramente pelos blogs, e depois por outras redes de televisão.
O filme apresenta uma história real que ocorreu em 2004 no canal CBS, mais especificamente no programa 60 Minutes, apresentado, que contava com a presença de Dan Rather (Robert Redford), uma espécie de lenda nos telejornais dos Estados Unidos, tendo estando no ar desde os anos 1960. O caso apresentado no filme afetou profundamente sua carreira, bem como, também, a da produtora e principal responsável pela investigação, Mary Mapes, vivida brilhantemente por Cate Blanchett.
Há questões que podem ser levantadas inclusive à luz do nosso próprio jornalismo, embora a história apresentada no filme ajude a inocentar ou ao menos diminuir o peso que recaiu sobre as costas de Mary Mapes, por ter encabeçado uma matéria inverídica (ou ao menos sem provas de verdade), ainda que sem saber. Não indo a fundo, Mapes meteu os pés pelas mãos e acabou entregando um "jornalismo marrom".
Como vemos o filme pelo ponto de vista de Mary, é fácil entender que ela caiu numa cilada, mas também podemos perceber sua tendência em ir buscar uma informação que fosse do seu interesse, ou seja, uma informação que ajudaria a prejudicar o candidato republicano, poucos meses antes de sua reeleição. Por outro lado, sabemos que não existe jornalismo imparcial. Há sempre os jornais que tendem mais para a direita ou mais para a esquerda, mas a preocupação da rede CBS, na busca de um jornalismo sério, era a de que aquele erro fosse devidamente verificado e que alguém – e não a própria emissora – assumisse a culpa.
CONSPIRAÇÃO E PODER tem uma estrutura de filme de jornalismo tradicional, mas é um exemplar de dar gosto. Acabou sendo ofuscado por SPOTLIGHT, assim como a performance de Cate Blanchett foi ofuscada por seu próprio trabalho em CAROL. Passada a temporada do Oscar, é bom poder ver mais um filme de temática adulta entre o que é ofertado atualmente no circuito. Sem falar que um elenco desses não é todo dia que se vê, não.
E sobre a comparação com SPOTLIGHT, curioso como filmes sobre pessoas que vencem acabam tendo um apelo muito maior do que filmes sobre perdedores. Mas as histórias de perdedores merecem sim ser devidamente contadas e conhecidas.
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