sexta-feira, março 11, 2016
BOA NOITE, MAMÃE (Ich Seh Ich Seh)
Estamos em um momento particularmente interessante, em que certos filmes de horror que conquistaram boa parte do público e da crítica mundo afora e que fogem dos estereótipos mais tradicionais do gênero começam a aparecer em nosso circuito. No caso do austríaco BOA NOITE, MAMÃE (2014), o hype não se limitou à internet (como é comum acontecer) ou ao moribundo mercado de home video, mas teve como consequência uma distribuição, ainda que restrita, nos cinemas brasileiros.
O filme da dupla Severin Fiala e Veronika Franz tem dividido a crítica, mas como se trata de uma obra com um brilho próprio, é importante que seja visto, não interessando se vai agradar ou não às plateias. A recepção e o prazer ou o incômodo que proporciona a cada pessoa é diferente. Alguns espectadores, por exemplo, já sacam logo de cara um dos segredos do filme. E isso até pode ser considerado um problema, já que supostamente seria algo a ser uma surpresa no final.
De todo modo, o que conta mesmo é o clima tenso que se cria na relação entre os dois meninos gêmeos de nove anos de idade e a mulher que talvez não seja a mãe deles, que chega com o rosto enfaixado de uma cirurgia plástica. Como ela se comporta de maneira diferente e também um tanto cruel com as crianças, os meninos Lukas e Elias começam a suspeitar de que se trata de outra pessoa.
Um dos problemas do filme é o andamento um pouco arrastado e repetitivo da primeira metade da narrativa, quando as crianças são mostradas como vítimas. A partir do momento da virada, porém, BOA NOITE, MAMÃE ganha contornos mais interessantes, mas também mais explícitos nas cenas de violência e tortura, aproximando o filme do hoje mal visto subgênero torture porn. Mas acabo vendo isso como a salvação da lavoura, o modo como a obra explode em sangue e tensão.
Depois do final (um tanto precipitado, eu diria), restam também algumas perguntas, o que pode mostrar o filme tanto como um bom exemplar de cinema enigmático, como também como uma obra que possui alguns furos ou algo parecido. Por exemplo: o que é aquele túmulo cheio de ossos humanos em que os meninos encontraram um gato? Entrou na história apenas como um elemento gótico, por assim dizer? Também ficamos sem saber direito detalhes do acidente, mas provavelmente isso não é importante.
É bom que certas coisas permaneçam sem explicação, como a obsessão dos meninos por baratas, que ao menos serve como elemento de repulsa e gera alguns bons momentos, ou o aspecto mais sombrio de um dos gêmeos, em comparação com o outro. No mais, é um filme que cresce à medida que pensamos nele, mas não tanto a ponto de figurar entre os melhores exemplares do gênero dos últimos anos.
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