sexta-feira, março 18, 2016

MUNDO CÃO



Uma pena que o público não esteja dando muita importância a certos lançamentos brasileiros que aportam no circuito, principalmente em cinemas de shopping. São filmes que por não terem um apelo tão popular quanto as "globochanchadas" acabam ficando invisíveis: é um semana em cartaz e rua! Parece ser o caso de MUNDO CÃO (2015), o retorno à boa forma de Marcos Jorge, melhor lembrado pelo ótimo ESTÔMAGO (2007). No novo filme, Jorge retoma a parceria com Lusa Silvestre no bem construído roteiro.

Claro que quem for ver o filme esperando algo tão bom quanto ESTÔMAGO pode ficar um pouco desapontado, mas a força de MUNDO CÃO, sua eficiência como suspense e o espetacular desempenho dos atores são inegáveis. Outra coisa: como o filme traz algumas surpresas em sua trama, é importante que não vazem spoilers por aí, para não estragar a experiência do espectador.

O filme começa nos apresentando a Nenê, também conhecido como Paulinho, personagem de Lázaro Ramos. Nenê é um sociopata que agencia uma dessas máquinas eletrônicas de bingo de bar e que usa seus cachorros adestrados para meter medo em quem ele quer. E é por causa do que acontece com um de seus cães que Nenê acaba perpetrando uma vingança em um empregado de uma empresa que presta serviços de laçador no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, o Santana, vivido por Babu Santana. Nenê chega ao local poucos minutos antes que um de seus cães, capturado pela carrocinha, acabou de ser sacrificado.

Também somos apresentados à família de Santana, um homem simples casado com Dilza (Adriana Esteves), uma mulher evangélica que confecciona calcinhas para ajudar nas despesas da casa e que cuida de dois filhos, uma moça surda-muda e um garotinho que quer torcer pelo Palmeiras, para tristeza do pai, que é Corinthians de coração. Toda a família acabará sendo prejudicada pelo encontro fatídico entre Nenê e Santana. Saber isso da trama já é mais do que suficiente. Ah, e quanto ao fato de ela ser evangélica, MUNDO CÃO é mais um filme que toma a liberdade de mostrar esse povo de maneira caricata.

A construção do personagem de Lázaro Ramos é um dos pontos altos do filme, que em alguns momentos beira o grotesco, mas de vez em quando é possível perceber alguns tons de cinza no personagem, principalmente nos momentos em que ele contracena com o garotinho, o que permite que ele saia de uma posição meramente de antagonista. A moça que faz Isaura (Thainá Duarte) também vai ganhando força ao longo da narrativa.

No fim, fica a impressão de que o filme poderia ser melhor, apesar de haver pelo menos dois momentos que nos deixam paralisados. Mas fica também a certeza de que vimos um trabalho eficiente, redondo, até em pequenos detalhes que servirão para a conclusão da trama, o que dá a entender que se trata de uma obra que segue a cartilha convencional do roteiro. Seria, portanto, um belo filme de estrutura clássica, sem a menor intenção de cruzar essa fronteira.

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