terça-feira, março 22, 2016

ZOOTOPIA – ESSA CIDADE É O BICHO (Zootopia)



Será que é mesmo uma boa ideia os estúdios de animação da Disney começarem a se modernizar a ponto de quererem confundir seus produtos com os da Pixar? A pergunta surge quando comparamos ZOOTOPIA – ESSA CIDADE É O BICHO (2016) e o trabalho anterior da companhia (OPERAÇÃO BIG HERO, 2014) com o fenômeno popular que foi FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE (2013), um retorno aos contos de fadas com princesas e canções que fizeram a fama do estúdio do Mickey.

Claro que os executivos têm todo o direito de tentar mudar e experimentar. E devem mesmo para que não fiquem presos no tempo. O problema é que até o momento essa modernização não tem tido um resultado plenamente satisfatório. O que não quer dizer que ZOOTOPIA não seja uma animação bem interessante e ousada, que brinca com os filmes policiais hollywoodianos clássicos e até mesmo com os filmes de horror da produtora de Val Lewton, em determinado momento.

Isso é bom. Por outro lado, o que dizer de um filme cuja cena mais legal seja justamente a apresentada no trailer: a que mostra a coelhinha policial Judy e o raposo malandro Nick numa espécie de DETRAN, contracenando com o Flecha, o simpático bicho-preguiça? Pena que o Flecha aparece pouco. Mas falemos dos aspectos positivos de ZOOTOPIA.

Em primeiro lugar, é louvável o trabalho da produtora em estudar os bichos que são apresentados ao longo do filme para inseri-los na trama, transformando-os em animais antropomórficos, mas sem mexer com suas dimensões. Assim, quando vemos a policial Judy em meio a um bando de rinocerontes temos a ideia de quão pequenina ela é naquele espaço de brutamontes.

A trama principal no começo parece pouco interessante – envolvendo o desaparecimento de alguns habitantes da Zootopia –, mas quando somos levados à revelação do destino dos desaparecidos é que percebemos o aspecto ousado da trama. Pena que demora um pouco para que Judy e Nick, antes inimigos, depois amigos, cheguem a descobrir o tal segredo, e isso prejudica um pouco o andamento da narrativa, dando ao filme um aspecto um tanto preguiçoso – e sem a desculpa de ter o Flecha o tempo todo, o que é ruim.

De todo modo, há outros pontos positivos em meio a esses problemas: ainda que de maneira um tanto discreta, é bom acompanhar a aproximação da dupla de protagonistas, e o modo como o filme ainda consegue pensar em torná-los até mesmo mais do que simples amigos.

Há também uma questão política curiosa envolvendo o Prefeito, que é um leão, e a Vice-Prefeita, uma ovelha. Como estamos vivendo tempos um tanto delicados do ponto de vista político, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, o filme acaba passando uma mensagem que pode causar certa identificação.

ZOOTOPIA é, por isso, um filme que merece a atenção, sim. Não é uma obra qualquer dentro da filmografia das animações dos estúdios Disney, mas também não figurará no rol dos clássicos inesquecíveis e queridos. Se bem que, se formos olhar com atenção a lista recente do estúdio, com raras exceções, faz tempo que a Disney sobrevive da glória da Pixar, com quem eles estabeleceram uma parceria desde o começo.

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