quinta-feira, setembro 21, 2006

CARL TH. DREYER - RADIOGRAFIA DA ALMA (Carl Th. Dreyer: Min Metier)



Documentário presente na caixa lançada pela Magnus Opus, CARL TH. DREYER - RADIOGRAFIA DA ALMA (1995), de Torben Skjødt Jensen, dá uma geral na obra de um dos mais importantes cineastas de todos os tempos. Como o filme contém trechos de filmes do mestre, depoimentos de pessoas que trabalharam com ele, além da leitura de reflexões do próprio cineasta, não tem como ser ruim. Mas é o tipo de documentário que funciona melhor mesmo como extra de DVD. E é recomendado principalmente a quem já viu os filmes de Dreyer, especialmente DIAS DE IRA (1943) e A PALAVRA (1955), já que são mostradas cenas cruciais dessas obras-primas.

O que eu senti falta no documentário foi da total ausência de A QUARTA ALIANÇA DA SRA. MARGARIDA (1920). Depois de THE PRESIDENT (1919), o documentário fala um pouco de PÁGINAS DO LIVRO DE SATÃ (1921) e de MIKAEL (1924) e parte logo para aquele que é dos três filmes mais importantes de Dreyer: A PAIXÃO DE JOANA D'ARC (1928). Com direito a depoimento da filha de Maria Falconetti, Hélène Falconetti. Ela não dá muita corda para a lenda que diz que Dreyer era excessivamente perverso com suas atrizes. Mesmo assim, o fato de Falconetti ter abandonado o cinema logo depois de fazer esse filme ainda passa a impressão de que ela ficou realmente traumatizada. Talvez por ter "entrado" de verdade na personagem, tendo inclusive topado fazer aquela forte cena da cabeça raspada.

O documentário apresenta também uma rápida visita ao castelo onde foi filmado O VAMPIRO (1932). Mas o grosso de material, até pela maior facilidade de encontrar pessoas vivas relacionadas aos filmes é mesmo dos três últimos trabalhos de Dreyer. A atriz de DIAS DE IRA, Lisbeth Movin, apesar da idade avançada, ainda apresenta aqueles olhos hipnotizantes de quando era jovem. Definitivamente, ela foi uma escolha perfeita para o papel. Ainda sobre DIAS DE IRA, o documentário fala um pouco sobre aquela história fascinante e maior exemplo da crueldade de Dreyer, de quando ele deixou aquela pobre senhora que faz a cena da fogueira amarrada enquanto todos pararam a filmagem para almoçar. A velhinha deve ter chorado o dia inteiro depois disso.

Como havia pouco material do próprio Dreyer falando, o filme utiliza o recurso da leitura de frases de efeito e de manuscritos do cineasta. Dreyer não teve uma vida tão extraordinária fora dos filmes como um Werner Herzog ou um Roman Polanski e talvez por isso tenha recusado tantas vezes em fazer o documentário. Só aceitou quando concordaram em focalizar mais na obra do que na vida, o que foi uma escolha lógica.

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