sexta-feira, setembro 22, 2006

PAIXÕES QUE ALUCINAM (Shock Corridor)



"Sam Fuller não é um iniciante, ele é um primitivo; sua mente não é rudimentar, ela é rude; seus filmes não são simplistas, eles são simples; e é essa simplicidade que eu mais admiro."
(François Truffaut)

Foi só agora, vendo PAIXÕES QUE ALUCINAM (1963), que eu entendi o porquê da crítica americana ter subvalorizado a obra de Samuel Fuller. Pelo menos até os jovens cineastas franceses da Nouvelle Vague começarem a cultuar e a louvar o trabalho do cineasta. Esse foi apenas o quarto filme de Fuller que eu vi e o primeiro que percebo com mais força um estilo que fornece munição para que os detratores o chamem de trash ou algo parecido. Claro que hoje em dia esse tipo de comentário é quase impossível de se ver, tendo em vista a fama e o respeito que o cineasta adquiriu.

PAIXÕES QUE ALUCINAM conta a história de um jornalista (Peter Breck) que se faz de louco para entrar num hospício com dois objetivos: a) descobrir quem foi o autor de um assassinato mal resolvido; e b) ganhar o prêmio Pulitzer pelo furo de reportagem. Constance Towers, que também pode ser vista no filme imediatamente posterior de Fuller, O BEIJO AMARGO (1964), faz o papel de namorada do jornalista. Ela também se disfarça de dançarina de boate para fins jornalísticos, mas é totalmente contra o fato de o namorado se submeter a tal situação, sob o risco de se tornar, ele também, um louco. Lembrando que em O BEIJO AMARGO Constance também fingia ser o que não era. Ou ao menos, tentava esconder o seu passado. Assim como esses personagens, Fuller talvez fosse uma espécie de contrabandista. Falava de política e de problemas sociais em seus filmes disfarçados de filmes exploitation ou de gênero.

A influência de PAIXÕES QUE ALUCINAM em outros filmes de manicômio conhecidos, como O ESTRANHO NO NINHO ou BICHO DE SETE CABEÇAS, é evidente. Inclusive, comparando com o filme brasileiro, há uma semelhança muito grande entre o personagem do Ceará no filme de Laís Bodanszky e o do gordo que fica cantando ópera no ouvido de Peter Breck. Suspeito que Laís fez uma espécie de homenagem a Fuller no seu trabalho.

PAIXÕES QUE ALUCINAM foi filmado em preto e branco, mas as seqüências de delírio dos personagens aparecem em cores. A impressão que eu tinha era de que as seqüências em cores não haviam sido filmadas por Fuller, mas me enganei. Soube pelo blog de André ZP que o cineasta dirigiu ele mesmo essas seqüências fora dos Estados Unidos.

O filme tem o seu fascínio, mas tenho que confessar que o achei um pouco cansativo, ainda que dê um gás lá pelo final. Dos filmes de Fuller que vi, foi o que menos gostei. Talvez também pelo fato de ter assistido com legendas em espanhol, o que normalmente me dá nos nervos. Fico sem saber o que prestar atenção: se no áudio em inglês ou na legenda. Por isso que o espanhol é sempre a terceira opção quando estou atrás de legendas para divx. Inclusive, só apelei para o divx porque não encontrei o DVD da Aurora nas locadoras daqui da cidade.

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