quinta-feira, setembro 07, 2006

SERPENTES A BORDO (Snakes on a Plane)



Assim como acontecia com muitas produções da Hammer e com os primeiros filmes de horror da Universal, SERPENTES A BORDO (2006) nasceu apenas de um título. Sabe-se que Samuel L. Jackson aceitou protagonizar o filme sem nem mesmo ler o roteiro. Aliás, o roteiro nem estava pronto ainda quando ele topou participar. Filmes que nascem assim são despretensiosos por excelência. Se há uma pretensão, ela está em faturar uma grana preta. Não há aqui nenhuma intenção de fazer uma obra de arte, apenas um filme que atraia o público jovem, entretenha e faça muito sucesso.

SERPENTES A BORDO não é muito diferente de muitos filmes de baixo orçamento que são paridos todos os dias nos Estados Unidos em produtoras pequenas. A principal diferença é que, assim como aconteceu com A BRUXA DE BLAIR, a internet transformou o que era um filme pequeno num fenômeno de massa. Aliás, a internet foi responsável pela própria existência do filme. Se não fossem os blogueiros - em especial o autor do blog Snakes on a Blog -, o filme não teria se transformado nesse fenômeno. A princípio, a idéia era ridícula demais para ser aceita pelos executivos de Hollywood. Quem é que leva a sério um filme em que um terrorista solta um monte de serpentes furiosas num avião? Mas quem disse que todo filme precisa ser sério?

Quando eu soube que a direção do filme ficaria a cargo de David R. Ellis, eu já fiquei bastante animado. Ellis havia mostrado em seus filmes anteriores - PREMONIÇÃO 2 (2003) e CELULAR - UM GRITO DE SOCORRO (2004) - que nasceu para fazer filmes B. Só que ele teve a sorte de começar a fazer filme B com muito dinheiro envolvido. Ellis não tem o menor pudor em rechear o filme com cenas de nudez e sangue. O primeiro ataque das serpentes acontece justamente no momento em que dois namorados estão fazendo sexo no banheiro do avião. Há uma variedade grande de serpentes e, conseqüentemente, de mortes. Não esqueceram nem mesmo daquela cobra enorme que mata sua vítima quebrando-lhe os ossos para, em seguida, engolí-la inteirinha. Perto das cobras, a parte "avião prestes a cair" do filme perde um pouco a sua força.

Em comparação com seus dois filmes anteriores, SERPENTES A BORDO perde um pouco em qualidade. Talvez a super-exposição na mídia tenha, ironicamente, prejudicado o filme. Talvez o espírito do filme não combine muito com as luxuosas salas dos multiplexes de hoje. Combinaria mais com as salas de cinema empoeiradas de antigamente e com as fitas de vídeo. SERPENTES A BORDO tem o sabor de filmes trash tipo PIRANHA 2 ou daqueles filmes de formigas gigantes que passavam no SBT na década de 80. Imagino que, no futuro, depois que o filme passar várias vezes na televisão, as novas gerações vão lembrar com carinho das serpentes no avião e de um policial muito invocado.