quinta-feira, fevereiro 27, 2014

NEBRASKA























Assim como David O. Russell, Alexander Payne é um dos novos cineastas (surgidos nos anos 1990, mas que ganharam mais popularidade nos anos 2000) que tem conseguido um forte apoio da Academia, no que se refere ao Oscar. No entanto, talvez seja um cineasta um tanto superestimado. Não se trata de negar seu talento ou mesmo sua autoria, mas de se perguntar até que ponto a indicação de cineastas como ele não é apenas uma tentativa de renovar as listas de favoritos com supostos novos talentos do cinema americano.

Apesar de dois interessantes filmes nos anos 1990, RUTH EM QUESTÃO (1996) e ELEIÇÃO (1999), foi a partir dos anos 2000 que seu estilo pareceu se cristalizar, a apresentar pontos mais claros em comum. O ponto mais fácil de verificar é o gosto pelo road movie, subgênero que já se caracteriza por mostrar a jornada espiritual de um ou mais personagens, através do simbolismo da viagem. Aconteceu em AS CONFISSÕES DE SCHMIDT (2002), SIDEWAYS – ENTRE UMAS E OUTRAS (2004) e OS DESCENDENTES (2011).

NEBRASKA (2013) dá prosseguimento a esse trabalho de autoconhecimento de seus heróis. No caso do novo filme, o herói é Woody Grant, um senhor idoso e com prováveis problemas de memórias vivido por Bruce Dern. Ele cismou que foi premiado com um milhão de reais, através de uma carta de uma revista. Provavelmente a Reader’s Digest, embora não tenha sido citada explicitamente.

Sua família sabe que ele não ganhou coisa alguma, mas o filho mais novo, David, vivido por Will Forte, resolve levar o pai até Nebraska (eles moram em uma cidadezinha de Montana), tanto para mostrar a realidade nua e crua para o velho cabeça dura quanto para passar mais tempo com o pai.

O curioso de NEBRASKA em relação aos demais trabalhos de Payne é que dessa vez ele vai mais fundo na América profunda, apresentando personagens que beiram o ridículo, em especial os moradores da cidade em que Woody e David fazem uma parada, a fim de que Woody possa descansar de uma batida na cabeça. O problema é que Woody espalha que é milionário e não falta gente para botar o olho gordo e até tentar extorqui-lo para conseguir uma parcela desse dinheiro.

Um dos destaques do filme é a bela fotografia em preto e branco de Phedon Papamichael. A textura da imagem é quase prateada. O uso do scope também é valorizado. Em determinada cena, a família de Woody é mostrada numa sala de estar, ocupando a tela inteira. O scope também auxilia nas tomadas exteriores, destacando a paisagem da região e a melancolia daquele lugar, lembrando, inclusive, A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, de Peter Bogdanovich.

O problema do filme talvez seja o "excesso de sutileza" no trato com as emoções, o que já é uma característica do cinema de Payne, mas que em OS DESCENDENTES ganhou contornos próximos do melodrama em seus momentos finais, o que vejo como um mérito. Porém, há uma boa lista de apreciadores do filme e da atuação de Bruce Dern, pessoas que se sentiram tocadas com o drama dos personagens e com o estilo da direção.

NEBRASKA foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, direção, ator (Dern), atriz coadjuvante (June Squibb), roteiro original e fotografia.

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