domingo, maio 05, 2013
CAMILLE CLAUDEL, 1915
Forte candidato a melhor filme da edição deste ano do Festival Varilux de Cinema Francês, CAMILLE CLAUDEL, 1915 (2013), de Bruno Dumont, confirma a força autoral do cineasta e ainda conta com uma interpretação tocante de Juliette Binoche. Falando assim, até parece que o filme é um drama convencional de levar o espectador às lágrimas. Ao contrário, o registro de Dumont é seco, sem música, opressivo, perfeito para imprimir os sentimentos de desolação e angústia da personagem central, largada em um hospital psiquiátrico pelo próprio irmão e sem ter nenhuma comunicação com a família há tempos.
O diretor Bruno Dumont faz da história real da escultora Camille Claudel um objeto perfeito para seu cinema que lida com as dores da alma e com a confusão trazida pela religião. Essa ligação forte com a religião já havia sido mostrada com força em O PECADO DE HADEWIJCH (2009) - e em outros trabalhos do diretor que eu não vi - e volta em CAMILLE CLAUDEL, 1915. Na verdade, esse elemento aparece mais fortemente depois de aproximadamente 2/3 da duração do filme, quando conhecemos o personagem do irmão de Camille, tornando o que já era um filme muito interessante em uma obra extraordinária.
O recorte temporal, o ano de 1915, para tratar da história de Claudel, serve para mostrar tanto um momento em que a artista passava por um período de depressão, mas que ainda pode ser revertido com a notícia da visita do irmão, quanto um momento em que a França estava em guerra e tudo no país parecia mais sombrio. A personagem-título atravessa momentos de indignação e outros de aceitação de sua situação, como numa espécie de expiação por algum pecado que tenha cometido e que é comentado em certo momento.
Trata-se de um filme de poucos cortes, de poucos diálogos, de tempo estendido e que passa toda a dimensão de sofrimento da personagem com uma economia de palavras impressionante. Ainda assim, um dos destaques é a cena em que Camille, em um primeiro plano bem acentuado, desabafa com o médico-chefe do hospício, como numa sessão de psicanálise. Com a diferença que o médico não parece ajudar nem como um psicanalista nem como um padre.
Mas o momento mais tocante do filme é mesmo a cena do teatrinho organizado pelas freiras e protagonizado pelos loucos. Nesta cena, Juliette Binoche não precisa dizer nada. As poucas falas da peça a tocam de tal maneira que as variações no modo como ela transmite isso através de expressões faciais também comove o espectador. É, sem dúvida, o momento de maior catarse, além de ser também um dos pontos altos da carreira já bastante generosa da atriz.
Se em O PECADO DE HADEWIJCH havia uma semelhança com MOUCHETTE, A VIRGEM POSSUÍDA, a semelhança com o cinema de Robert Bresson continua agora com uma mistura de DIÁRIO DE UM PÁROCO DE ALDEIA, que retrata a depressão profunda e a entrega lenta à morte pelo protagonista, com O PROCESSO DE JOANA D’ARC, que mostra uma alma encarcerada e inocente, que sofre por causa de convenções sociais, maldade e ignorância.
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