quinta-feira, abril 15, 2010

CONTOS DE NOVA YORK (New York Stories)























Não estava nos meus planos rever CONTOS DE NOVA YORK (1989) tão cedo. Mas durante a agradável conversa lá na casa do Marcelo V., eu entrei com um comentário a respeito de "A Whiter Shade of Pale", o clássico da banda britânica Procol Harum. Aí o Vébis lembrou que a canção estava presente no segmento de Martin Scorsese do filme. E eu logo falei da minha vontade repentina de rever o filme. E acabou sendo o primeiro que vi em casa depois da viagem. Durante a revisão, continuei achando o segmento de Martin Scorsese espetacular, o de Francis Ford Coppola bem fraco e o do Woody Allen bem simpático. Não mudou muito o quanto eu gostava de cada um dos filmes, mas muda a forma de ver, já que eu fui conhecendo um pouco mais de cada cineasta. Aliás, por mais que esse tipo de projeto coletivo tenha sempre um resultado irregular, bem que poderiam fazer mais do tipo.

"Lições de Vida", o segmento de Martin Scorsese, continua maravilhoso. A canção-tema ajuda bastante a imprimir o grau de obsessão, paixão e entrega do personagem de Nick Nolte pela assistente vivida por Rosana Arquette. Quem já foi apaixonado por alguém e não foi correspondido não tem como não se identificar ao menos um pouco com a situação, por mais que incomode o fato de o pintor se sujeitar demais às vontades daquela garota que se sente dona da situação. Visto hoje, vejo "Lições de Vida" como mais um belo trabalho sobre obsessão e loucura que se tornou mais explícito em filmes recentes do cineasta, como O AVIADOR (2004) e ILHA DO MEDO (2010). E, por que não?, também em NO DIRECTION HOME – BOB DYLAN (2005). Aliás, tanto Bob Dylan quanto Rolling Stones comparecem na trilha sonora, quando Nolte pinta seus quadros de maneira frenética, quase vomitando a sua angústia, enquanto ouve suas canções favoritas com o som no talo. Alguns momentos são particularmente dolorosos, como quando, usando recursos da época do cinema mudo, Scorsese mostra o detalhe do belo pé de Rosana, ou quando o pintor olha para suas calcinhas. Eis um filme dilacerante.

"A Vida sem Zoe" é um dos trabalhos mais fracos da carreira de Coppola, mas que tem a sua cara. A valorização da família está em toda parte, desde os créditos, com roteiro coescrito por sua filha Sofia Coppola, trilha sonora do papai Carmine Coppola e participação de sua irmã Talia Shire, até o próprio enredo. O filme foi realizado meio que às pressas, enquanto o cineasta preparava O PODEROSO CHEFÃO – PARTE III (1990). A trama é meio bobinha, envolvendo uma garotinha rica, sua rotina de festas e sua relação com os pais separados. Há quem diga que é um filme subestimado.

"Édipo Arrasado" é um autêntico Woody Allen. Se ele já havia mostrado uma preferência por uma vida bem discreta e certo constrangimento quando sua vida é mostrada ao público – lembram da cena da banca de revistas em BANANAS (1971)? -, imagine quando toda a população de Nova York fica sabendo disso quando a cabeça de sua mãe desaparecida aparece no céu da cidade contando detalhes de sua vida e de sua infância, além de ficar o tempo todo dizendo o quanto não gosta da noiva do filho (Mia Farrow). Dá para notar o gosto de Allen por espetáculos de mágica, pois lembrei de filmes recentes como O ESCORPIÃO DE JADE (2001) e SCOOP – O GRANDE FURO (2006). A grande surpresa para mim foi ver Larry David numa participação pequena no filme. Acho que ele jamais preveria que seria protagonista de um filme de Allen – no novo TUDO PODE DAR CERTO (2009).

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