sexta-feira, julho 04, 2008

[REC]



Os distribuidores brasileiros andam pisando na bola com bobagens, enquanto filmes mais urgentes como [REC] (2007), de Jaume Balagueró e Paco Plaza, e REDACTED, de Brian De Palma, continuam inéditos no país. A menção desses dois filmes não é em vão, já que ambos, assim como o recente filme de monstro CLOVERFIELD e o hoje longínquo A BRUXA DE BLAIR, têm algo em comum: o uso da câmera na mão, a tentativa de se fazer um cinema mais próximo do espectador, simulando uma situação real. Depois de A BRUXA DE BLAIR, o recurso deixou de ser original. (Na verdade, já não era, já que antes da Bruxa havia CANNIBAL HOLOCAUST, de Ruggero Deodato). O importante aqui, no caso de [REC], não é a originalidade, mas a capacidade de causar tensão, sustos, de criar uma atmosfera que deixe o espectador sentindo-se dentro da própria ação.

Assim como CLOVERFIELD, [REC] também demora um pouco para mostrar os seus "monstros", no caso, os zumbis. É necessário mais ou menos de meia hora a quarenta minutos para que o horror surja com força total, mas toda a expectativa em torno também conta pontos para a eficiência do trabalho dos diretores. Na trama, Manuela Velasco é Ángela, uma repórter de um programa de tv que passa na madrugada, entitulado "Enquanto você dorme". O programa da vez tem a função de mostrar a rotina dos bombeiros numa noite normal. Para desapontamento da repórter, não acontece nada, embora os bombeiros tenham se mostrado prontos para uma eventual emergência. Para a alegria de Ángela, porém, a sirene de emergência é acionada e ela e o câmera vão juntos com os bombeiros até um prédio, onde uma situação ainda mal explicada está acontecendo. No prédio, boa parte dos condôminos estão na parte térrea, assustados com os gritos de uma velha. Os bombeiros sobem junto com os repórteres e um policial, mas para desespero de todos o policial é atacado na jugular pela senhora louca - que com aquela maquiagem ficou muito parecida com uma senhora gorda zumbi de MADRUGADA DOS MORTOS.

A situação fica ainda mais enervante, quando é declarado uma quarentena e quem está no prédio é impedido de sair. As pessoas ficam sem saber o que está acontecendo. Ao contrário de A NOITE DOS MORTOS VIVOS, de George A. Romero, as pessoas não estão presas num lugar querendo se proteger dos zumbis do lado de fora, mas estão dentro do prédio, loucas para sair e sem poder, por conta das ações do Governo. É uma situação parecida com a de O NEVOEIRO - o de estar preso num lugar sem sair -, mas aqui o desespero é mais intenso e a ação acontece quase que em tempo real, com apenas algumas poucas vezes em que a câmera é desligada. Há até um momento em que nos vemos em completo breu, apenas ouvindo os sons dos personagens em estado de pavor. A sucessão de sustos é grande e fico imaginando o que deve ser a experiência de ver esse filme no cinema. Mas pelo visto, o remake americano deve chegar aqui antes.

Sim, os americanos não são bobos e já querem faturar em cima da idéia de Balagueró e Plaza. QUARANTINE (2008), o remake americano, já está pronto para estrear nos Estados Unidos em outubro, foi dirigido pelo desconhecido John Erick Dowdle, mas deve aproveitar o mesmo roteiro da produção espanhola. Talvez o que faça a diferença seja a presença da sempre ótima Jennnifer Carpenter, de O EXORCISMO DE EMILY ROSE e DEXTER. Mas, independente do que os americanos façam, hoje em dia podemos dizer que em se tratando de horror europeu de qualidade, a Espanha e a França são a nova Itália. De Balagueró, já atestei a sua eficiência desde A SÉTIMA VÍTIMA (2002) e vi outros de seus bons trabalhos. Falta eu conhecer agora os filmes de Paco Plaza.

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