sexta-feira, julho 25, 2008

SONHO DE AMOR (Song without End)



Esse negócio de levar a sério demais a peregrinação da obra de algum diretor leva a alguns filmes no mínimo estranhos. SONHO DE AMOR (1960) nem é um filme oficialmente creditado a George Cukor. O que aconteceu foi que o diretor Charles Vidor morreu no meio das filmagens e Cukor foi convidado a finalizá-lo. Nem dá pra saber quais foram as cenas filmadas por Cukor, mas talvez tenham sido poucas, não sei. E por mais que seja um filme que focalize a sua atenção no mundo dos espetáculos, não é uma trabalho que tenha a cara de Cukor, o que não é de se admirar, já que ele apenas deu uma forcinha. Nos créditos iniciais, seu nome aparece nos agradecimentos. O filme é bem careta e meio chato, embora a figura de Franz Liszt seja bem interessante para uma cinebiografia. Há até um filme bem mais ousado sobre o virtuoso pianista, dirigido por Ken Russell, com Roger Daltry, do The Who, no papel principal e com direito a algumas cenas bem apimentadas e uma participação de Ringo Starr como o Papa! Chama-se LISZTOMANIA (1975) e tem bem o espírito de sua época.

Neste SONHO DE AMOR, a vida mais louca e pregressa de Liszt (Dirk Bogarde), é deixada prá trás e o filme foca a atenção no momento em que ele já está em casa, casado e com dois filhos, e prestes a abandonar a carreira, até ser convidado para tocar para a Princesa de Witgenstein (Capucine), por quem acaba se apaixonando, a ponto de fazer o que ela quer, tocar onde ela deseja e trocar a sua família e seus filhos pelo amor de uma mulher casada e pertencente à nobreza russa. Ele, na época, era considerado o mais virtuoso dos pianistas. Em seus espetáculos, tocava não apenas composições próprias, mas principalmente obras de autores consagrados como Beethoven, Chopin, Wagner entre outros mestres da música clássica e romântica. O interessante de ver esses filmes com essas obras desses autores renomados é notar o quanto algumas dessas músicas são já conhecidas de nossos ouvidos, mas que devido à nossa ignorância (deveria dizer à minha ignorância) acabamos não identificando o autor à obra. Pra minha surpresa, eu vi que já conhecia pelo menos duas obras de Listz. Acho que no campo da música erudita, eu fiquei nas Quatro Estações de Vivaldi e me desinteressei por Mozart no início dos anos 90. Mas do pouco que ouvi, tenho impressão que prefiro os românticos, como Beethoven e o próprio Liszt, e os barrocos, como Vivaldi e Bach, aos compositores mais cerebrais do Classicismo, como Mozart. Se bem que, pesquisando, eu vi que tanto Beethoven quanto Mozart tiveram momentos tanto clássicos quanto românticos, assim como Bach teve momentos barrocos e clássicos.

Quanto ao filme, por mais que dê pra se contentar com algumas apresentações do personagem principal, que toca belíssimas músicas desses compositores geniais (acharia ótimo se em cada música tocada, aparecesse na tela o nome do autor e da obra embaixo), o que o filme mais se interessa é em mostrar a forte paixão que Liszt nutre pela princesa, mais até do que pela própria música, o que só acontece com grandes artistas quando o amor é forte mesmo. Até aí tudo bem, mas eu não me conformo com certas decisões da princesa no final, por mais que eu possa aceitar como sendo parte de uma cultura da época, mas uma mulher que abdicou do próprio título de princesa para ficar com um homem indesejado pelos czars, bem que poderia se desvincular de sua tão sagrada igreja e ir se casar, digamos, na Inglaterra, numa Igreja anglicana, ou viverem juntos independente do que a sociedade vá pensar a respeito. Mas o problema maior está na fé e na certeza que ela tem de que Deus não permite que os dois fiquem juntos. Até aí, novamente, tudo bem, acabaria dando ao filme um certo ar trágico, principalmente levando em consideração a cena final, mas o filme mais se parece uma grande telenovela. Ia dizer novela mexicana, mas além de ser um termo já muito usado, acho que os mexicanos já devem estar cansados de serem comparados ao pior do melodramático que existe no mundo. :)

A cópia da ClassicLine está com as cores esmaecidas e não respeita a janela correta do filme, em scope. Mas como o filme não é grande coisa mesmo, não senti muito a falta da tela larga.

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