sábado, julho 19, 2008

BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS (The Dark Knight)



A seqüência de BATMAN BEGINS (2005) tinha tudo para ser uma das melhores, se não a melhor adaptação dos quadrinhos para a telona, se não fosse a pretensão de Christopher Nolan, que fez com que o filme se alongasse demais, estragando o que estava indo muito bem. Sem dúvida, BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008) é melhor que o filme anterior, que era didático demais, chato até, e talvez não resista a uma revisão. Assim, podemos dizer que o segundo filme do Homem-Morcego foi o mais bem acabado trabalho de Nolan, o que não quer dizer muito, já que seus trabalhos anteriores não são tão espetaculares como muita gente tenta me convencer. É um filme torto, mas que quase chega a um grau de excelência na sua proposta. A trama lembra, muitas vezes, as melhores estórias de Ed Brubaker e Greg Rucka para a série Gotham City contra o Crime, uma série em quadrinhos adulta da DC que priorizava os policiais de Gotham e mostrava o Batman apenas como coadjuvante nas tramas. Claro que no filme de Nolan isso não chega a acontecer, mas há sim um esforço maior ao mostrar os policiais não como apenas uns caras que não servem para muita coisa, mas como verdadeiros e eficientes agentes da lei. James Gordon (Gary Oldman) até salva o Batman (Christian Bale) numa determinada cena. Assim, BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS se aproxima muitas vezes muito mais de um barulhento e movimentado filme policial do que propriamente de uma convencional adaptação de HQs. E quando eu falo barulhento, vem à minha cabeça o som potente que sai das caixas de som do cinema sempre que ouvimos um tiro. Há um belo trabalho de som que vale destacar. Há uma seriedade em fazer um trabalho mais adulto, falando de temas como política, que pode não agradar muito à garotada, mas que deve agradar bastante o já bem crescido fã de histórias em quadrinhos. E há Heath Ledger como o melhor Coringa jamais encarnado, seja na televisão ou no cinema.

Heath Ledger dá ao vilão uma dimensão que não chega a ser tão trágica, mas que chega a causar uma espécie de perturbação e ao mesmo tempo passa simpatia ao espectador. O que ele faz, ele não faz por dinheiro, como chega a explicitar numa seqüência, mas faz pelo gosto que tem pela anarquia e pela morte. E porque ele é mesmo perturbado, claro. Assim como o Batman também é. E diferente do histrionismo do Coringa de Jack Nicholson e do Pingüim de Danny DeVito dos filmes de Tim Burton, Heath Ledger não transforma o seu Coringa num vilão irritante e caricatural. Ao contrário, há uma vontade de reinventar o personagem, a começar pela própria maquiagem, que a princípio eu, assim como quase todo mundo, estranhou, mais suja e desgrenhada. E no meio dos dois há Harvey Dent, o trágico personagem que se tornaria o vilão Duas Caras. O filme também ganha muito com a excelente performance de Aaron Eckhart, uma escolha perfeita para viver um homem que tem uma aparência confiável, mas que também manda muito bem quando se transforma num sujeito esquizofrênico, havendo, inclusive, um interessante triângulo amoroso entre ele, o Batman e sua ex, agora interpretada pela sempre ótima Maggie Gyllenhaal. E conta-se que a atriz não aceitou o papel logo de cara. Ela estabeleceu suas condições: queria uma personagem inteligente e não apenas a mocinha que o Batman salva dos vilões. E isso foi facilmente resolvido pelos produtores.

O problema do filme talvez esteja no excesso de clímaxes. Não se trata apenas de ter duas horas e meia de duração, mas o fato de as estripulias do Coringa custarem demais a chegar a uma conclusão. Na verdade, acredito que nem chegaram. Não sei se por causa da morte de Heath Ledger ou porque isso já estava nos planos dos roteiristas. O fato é que quando o filme ultrapassa as suas duas horas, ele começa a cansar e por mais que a meia hora final seja bem interessante, àquela altura eu já ficava me imaginando como um montador cruel, desses que não tem pena de cortar as cenas sem importância da trama. Mas talvez esse problema da duração nem seja relativo ao tempo em si, mas à própria maneira como o filme foi montado. Uma boa montagem faz um filme de quatro horas parecer ter duas. Ou então o problema seja do próprio Nolan, que não chega a apresentar um trabalho de direção que faça jus a todos os pontos positivos que enumerei aqui (som excelente, ótimo elenco - e olha que eu nem falei dos outros coadjuvantes de luxo -, cara de Gotham City contra o Crime e de filme policial e a utilização de uma cidade de verdade - Chicago - em vez de uma construída em estúdio). No fim das contas, quem domina o filme não é o Nolan, mas o Coringa, embora ele diga em certa ocasião para o já acidentado Harvey Dent que não é ele quem planeja as coisas, afinal, ele é um agente do caos. Ele apenas faz as coisas. Falando na crueldade do Coringa, o filme até poderia ser ainda mais ousado do que é, mas como as crianças também vão querer ver o Batman no cinema, talvez não seja mesmo de bom tom para elas ver cenas explícitas do Coringa rasgando a boca de suas vítimas. Ainda assim, tenho que dar o braço a torcer: mesmo com o problema dos excessos e da falta de uma montagem ou corte melhor, trata-se do melhor e mais sério filme do Batman já produzido. Não deixa de ser animador, tanto para o espectador quanto para a DC, que anda perdendo há um tempão a batalha para a Marvel, seja no cinema seja nos quadrinhos.

P.S.: E por falar em filmes longos de super-heróis, o trailer de WATCHMEN já está circulando pela internet. Talvez seja o mais ambicioso de todos os filmes de super-heróis já feito.

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