segunda-feira, julho 14, 2008

ADORÁVEL PECADORA (Let's Make Love)



Um dos mais deliciosos filmes de George Cukor, ADORÁVEL PECADORA (1960) deve muito de seu brilhantismo à graça, à beleza e ao carisma de Marilyn Monroe. Cukor conseguiu fazer um musical com ela melhor que Howard Hawks, que fez o mediano OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS sete anos antes e embora tenha pegado Marilyn no auge da beleza não a tornou tão adorável e meiga quanto neste trabalho de Cukor, que é mais uma vez uma homenagem aos espetáculos teatrais, que nunca deixou de ser a grande paixão do diretor. (Aliás, acho que o que me incomoda no filme de Hawks é justamente o fato de as personagens serem vulgares e interesseiras demais.)

ADORÁVEL PECADORA antecedeu o filme que marcou a despedida das telas de Marilyn - OS DESAJUSTADOS, de John Huston, que também foi o adeus de Clark Gable. Por pouco, Cukor perde a chance de trabalhar com mais uma estrela importante, talvez a mais importante da década de 50, ao lado da princesa Grace Kelly. E por mais que digam que ela não era boa atriz e do quanto dava trabalho para os diretores - chegando atrasado por conta de seus problemas com as pílulas e tendo dificuldade de decorar as falas, além dos problemas de depressão - Marilyn tinha um brilho e um sex appeal praticamente inigualável naquela época. A começar pela voz, que também funcionava muito bem nas cenas musicais, dando um ar ao mesmo tempo sexy e infantil, especialmente quando aparece pela primeira vez no filme, cantando "My heart belongs to daddy", de Cole Porter (ver seqüência no youtube).

Dizem que ela teve um caso com Yves Montand durante as filmagens. E que ele até considerou deixar a esposa por ela, o que não deixa de ser compreensível. Não sei o quanto o marido Arthur Miller ficou sabendo disso, pois ele teve participação ativa no filme, tendo revisado o script, de modo que a personagem de Marilyn ganhasse maior destaque. Talvez a essa altura, ele já soubesse da encrenca em que tinha se metido ao se casar com ela. No livro AFINAL, QUEM FAZ OS FILMES, Cukor não entra em detalhes, só deixa claro o quanto ela não tinha confiança em si própria, tinha dificuldade de se concentrar, ficava nervosa e, por isso, ele tinha de filmar várias cenas em pedaços. Mas o filme ficou tão bem montado, que ficou perfeito. Marilyn era mágica e não tinha noção disso.

O filme conta a história de um bilionário empresário francês (Yves Montand) que é tão famoso quanto Elvis Presley. Quando ele sabe através de seu assessor que uma companhia teatral o está ridicularizando num espetáculo musical chamado "Let's Make Love", ele fica curioso e resolve assistir um dos ensaios. É quando ele se apaixona pela estrela do show, Amanda, interpretada por Marilyn. Como ninguém acredita que ele é o verdadeiro bilionário, mas apenas mais um sósia querendo arranjar lugar no espetáculo, de tão "parecido" e de se comportar feito um bobalhão feito o original, ele é logo escolhido. Como sua intenção é ficar sempre perto de Amanda até conseguir conquistá-la, ele inventa que é outra pessoa e procura meios de ganhar a admiração da jovem, seja à procura de piadas originais e engraçadas para aparecer, seja comprando ele mesmo o teatro. O seu desejo é que ela goste dele sem saber que ele é um bilionário, já que todas as mulheres com quem ele saiu só se interessavam por seu dinheiro. O filme começa um pouco morno, melhora consideravelmente com a entrada em cena de Marilyn e vai ficando ótimo da metade para o final. Até as seqüências musicais são gostosas de ver. E eu acho que estou começando a gostar de musicais também. E talvez deva isso a Cukor.

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