quarta-feira, julho 16, 2008
TRAIÇÃO EM HONG KONG (Boarding Gate)
Revelado pra mim através de IRMA VEP (1996), numa fita enviada pelo amigo Renato, Olivier Assayas foi se convertendo aos poucos num dos meus cineastas favoritos da atualidade. Ainda que exista um buraco existente entre IRMA VEP e ESPIONAGEM NA REDE (2002) que preciso preencher - sem falar nos trabalhos anteriores do cineasta -, de 2002 pra cá, tenho acompanhado sempre que possível cada novo trabalho desse que eu considero o mais "globalizado" dos cineastas. Não porque seus filmes sejam bancados por diferentes países, como acontece com Roman Polanski, por exemplo, mas por ter uma atração aparente tanto pelos Estados Unidos e Canadá quanto pelos países do Oriente, mais especialmente China e Hong Kong. Foi de lá que que veio Maggie Cheung, com quem ele ficou casado durante três anos. CLEAN (2004) talvez tenha sido o filme que marcou a despedida da parceria de Assayas com Maggie. Mas isso não quer dizer que ele tenha deixado de se interessar pela terra do sol nascente, já que TRAIÇÃO EM HONG KONG (2007) conta com mais dois astros nascidos por aquelas bandas: o chinês Carl Ng e a linda taiwanesa Kelly Lin.
Mas quem dá força ao filme é a protagonista, vivida pela italiana Asia Argento, num dos papéis mais eletrizantes de sua carreira. Inclusive, o fato de o filme ser um thriller de ação e não um drama intimista acabou por fazer com que ele passasse direto para o mercado de dvd, já que as distribuidoras dos filmes ditos alternativos parecem ficar um pouco confusas quando um cineasta mais acostumado a ser visto como um diretor "de arte" aparece fazendo um filme desses. Talvez o problema seja do próprio público do circuito alternativo, que em geral não curte muito ver filmes de ação. O mesmo ocorreu com ESPIONAGEM NA REDE, que só passou na telona em festivais de cinema e foi lançado no Brasil apenas em dvd - mas pelo menos de maneira decente, na janela correta. Mas voltando a Asia Argento, ela não é a primeira pessoa a aparecer no filme. Quem primeiro dá as caras é o americano Michael Madsen e com aquela persona de gângster e mau caráter que ele ganhou graças ao Tarantino. Aqui, ele é um empresário inescrupuloso e que também trabalha com atividades ilegais, como tráfico de drogas. No começo do filme ele diz estar prestes a desistir do negócio de drogas e se tornar um comerciante legal, quando ressurge em sua vida, em seu escritório em Paris, uma mulher que marcou bastante o seu passado: Sandra, a personagem de Asia Argento.
Na longa conversa que os dois têm, vamos ficando aos poucos sabendo do que ocorreu no passado, coisa que daria para um outro filme igualmente interessante. O empresário, de nome Miles, usava Sandra para atrair mais clientes, além de usá-la também para saciar suas taras sadomasoquistas. Nesse sentido, TRAIÇÃO EM HONG KONG (sim, o título brasileiro é horrível) faz um link com o ainda mais barra-pesada ESPIONAGEM NA REDE. No novo filme, entretanto, Assayas - principalmente a partir de sua segunda metade, já que a primeira é regada a muito falatório -, investe mais na ação, a partir da reviravolta que acontece na vida da personagem de Asia. Na verdade, ambos os filmes citados possuem tramas bem complexas, mas que podem ser encaradas como mcguffins, para quem não quiser esquentar a cabeça e só curtir o corre-corre que o filme se transforma, principalmente no momento em que Asia Argento faz a conexão França-China, depois de ter cometido um assassinato. No mais, é Asia perfeita num filme de ação, interpretando uma personagem que tem tudo a ver com a imagem que ela criou para si.
Quem também está no filme como coadjuvante de luxo é Kim Gordon, vocalista, guitarrista e baixista da banda Sonic Youth. Talvez a banda mais querida de Assayas, já que ela está presente (na trilha) pelo menos desde IRMA VEP. Assayas chegou a dirigir um documentário - NOISE (2006) - que apresenta um festival de rock que fechou com as performances das bandas Metric e Sonic Youth. A Metric é aquela banda que balança as estruturas quando é mostrada numa das primeiras seqüências de CLEAN, tocando "Dead Disco". E falando em Metric, coincidentenmente, ontem na sessão de EM PARIS, ouvi novamente uma canção da banda: "Handshakes". Parece que os franceses adoram essa banda.
P.S.: Uma pena que as legendas que eu peguei da internet para o filme não traduziam os diálogos em cantonês. Acredito que esse é um problema que o dvd oficial, a ser lançado em breve pela Fox, não terá.
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