segunda-feira, julho 28, 2008
ARQUIVO X: EU QUERO ACREDITAR (The X Files: I Want to Believe)
Não cheguei a ser um fã, desses que não perdeu nenhum episódio de ARQUIVO X (1993-2002), mas foi uma série que marcou tanto a década de 90 que era quase impossível ficar alheio às aventuras de Mulder e Scully. E devo ter visto pelo menos uns trinta episódios de toda a série, tendo acompanhado por completo apenas a última temporada, quando já estava com tv por assinatura à minha disposição. Antes, havia apenas as chances de ver os episódios esporadicamente, através das exibições na Rede Record, bem como nas locadoras, já que alguns poucos episódios das primeiras temporadas chegaram a ser disponibilizados em vhs. Mas o pouco que vi dessa série que durou nove temporadas e um longa-metragem para cinema - que serviu de elo de ligação entre duas dessas temporadas - foi suficiente para eu criar um vínculo afetivo com os personagens.
Vale lembrar que ARQUIVO X - O FILME (1998), dirigido por Rob Bowman, um dos principais diretores de episódios da série, surgiu no auge de popularidade da série e num momento em que a internet começava a se popularizar também. Dez anos depois desse filme e seis depois de encerrada a série, Chris Carter traz de volta o casal Fox Mulder e Dana Scully em mais uma missão para resolver, ainda que os dois já estejam aposentados de suas antigas funções. Scully, em vez de ficar no ostracismo, resolve seguir a sua carreira médica. Inclusive, as cenas dela tentando salvar a vida de um garoto que tem uma doença gravíssima chega a ser tocante e a julgar pela maneira fria como o filme vem aparentemente sendo recebido, muita gente deve ter achado até um pouco piegas esse aspecto mais sentimental da trama. Pra mim, essa subtrama está entre os pontos altos do filme. Quanto a Mulder, ele continua interessado em fenômenos paranormais, E.T.s e coisas do tipo e vive escondido num lugar onde pouca gente sabe onde ele está.
O FBI, sem conseguir resolver um caso complicado que envolve uma agente desaparecida e um ex-padre de passado negro que tem o dom de ter visões, resolve ir em busca de Mulder, que se encontra desaparecido, mas que certamente a sua ex-parceira de trabalho deve saber onde ele está. Com certo ceticismo, mas ao mesmo tempo desesperados, os agentes federais utilizam esse médium para tentar encontrar a vítima, que, segundo ele, ainda estaria viva. A segunda seqüência do filme mostra o FBI e o médium encontrando um braço decepado debaixo do gelo. E assim começa ARQUIVO X: EU QUERO ACREDITAR (2008), dirigido pelo próprio criador da série, Chris Carter, que procura não encaixar o longa na grande trama de extra-terrestres da série, como acontece no primeiro filme, mas numa trama fechada, que pode ser compreendida por aqueles que nunca viram um episódio da série. Mas, obviamente, assim como acontece com SEX AND THE CITY - O FILME, trata-se de um trabalho que é muito melhor apreciado e valorizado por aqueles que já entraram em contato com a série e que criaram uma relação de afeto com os personagens. Tanto Mulder e Scully são fascinantes. Opostos complementares, um acredita até em chupa-cabra, a outra é adepta de São Tomé. É o típico caso de que os opostos se atraem. E é muito bom ver um pouco da intimidade dos dois, embora o filme seja bastante discreto nesse aspecto, preferindo focar mais a atenção nos problemas que os dois precisam solucionar. Scully, então, é duplamente pressionada, já que também está trabalhando com afinco para uma cura para o garoto, que ela ama como se fosse o próprio filho.
O que pode incomodar ou decepcionar um pouco no longa, o que eu acho de certa forma até compreensível, é a trama que está por trás de todo o mistério. E talvez seja mesmo o maior ponto fraco do filme. Mas até chegarmos à revelação final, ARQUIVO X: EU QUERO ACREDITAR ainda tem muito a oferecer ao espectador em cenas de intriga, ação e suspense. No recheio, há uma relação de antipatia imediata entre Scully e o padre, cujo passado negro é justamente o de ter abusado de crianças, que surge ao mesmo tempo em que também há uma relação sutil mas de certa proximidade entre Mulder e a agente interpretada por Amanda Peet, principalmente por causa da ausência de Scully nas investigações, já que ela prefere cuidar de algo que pra ela é mais importante. Enquanto isso, Mulder fica totalmente empolgado em poder novamente sentir aquela adrenalina dos velhos tempos, de poder mergulhar no escuro do mistério. Mulder, seguindo os seus já conhecidos métodos intuitivos, acredita - ou quer acreditar - que o padre possui mesmo dons mediúnicos. Assim, no meio de cenas que chegam a surpreender, para os fãs da série, o filme ainda reserva um pequeno presente, na figura de um personagem querido da série, que aparece no último ato.
Quanto aos atores que interpretam Mulder e Scully - diferente da maior parte do elenco de FRIENDS, para citar outra série de sucesso dos anos 90 que deve virar filme também -, pode-se dizer David Duchovny e Gillian Anderson até que tiveram (ou estão tendo) uma carreira relativamente bem sucedida, seja no cinema, seja na televisão, ainda que Gillian, grande atriz que é, bem que poderia dar mais o ar de sua graça. Na realidade, ela não parou de trabalhar. É que ela tem se dedicado mais a produções britânicas que não têm chegado aqui. Gillian tem uma beleza radiante, talvez hoje com os seus quarenta anos até mais do que no comecinho de ARQUIVO X, com aquele visual que ainda carregava muito da moda oitentista. E Duchovny está de volta à televisão, na bem sucedida série CALIFORNICATION e em eventuais produções hollywoodianas, como o recente drama COISAS QUE PERDEMOS PELO CAMINHO, de Susanne Bier.
P.S.: Enquanto isso, uma nova série inspirada em ARQUIVO X parece estar nascendo. Foi vazado na internet o piloto de FRINGE, a nova série de J.J. Abrams, que se parece bastante com a série de Chris Carter e que deve estrear em setembro. Cheguei a ver o piloto, que também conta com um casal de agentes do FBI em estranhos casos para resolver. Só não sei se a série vai dar liga, já que o personagem de Joshua Jackson (DAWSON'S CREEK) não parece ter tanta força quanto a obstinada protagonista, vivida pela bela Anna Torv, que veio da Austrália e tem no currículo peças shakespereanas. Mas isso é algo que só os próximos episódios darão a resposta.
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