terça-feira, agosto 21, 2007

A MOÇA COM A VALISE (La Ragazza com la Valigia / La Fille à la Valise)



Eis mais um belo exemplar do cinema produzido no "país da bota". Quem primeiro me chamou a atenção para Valerio Zurlini foi o Carlão Reichenbach. Carlão, de tanto elogiar e falar da importância de Zurlini em sua vida torna quase impossível não ficar minimamente interessado em conhecer as obras desse diretor meio que marginal, no sentido de que acabou sendo esquecido por muita gente, ficando de fora do bloco dos "grandes". Mas há agora a chance de ele ser "redescoberto", já que a Versátil está fazendo um ótimo serviço, lançando aos poucos as suas obras, tendo já colocado nas prateleiras, além de A MOÇA COM A VALISE (1961), VERÃO VIOLENTO (1959) e o maravilhoso A PRIMEIRA NOITE DE TRANQÜILIDADE (1972). Para breve, a distribuidora promete trazer MULHERES NO FRONT (1965), SENTADO À SUA DIREITA (1968) e O DESERTO DOS TÁRTAROS (1976).

A MOÇA COM A VALISE já nos conquista desde as primeiras imagens. A belíssima fotografia em preto e branco, a beleza juvenil de Claudia Cardinale, a sofisticação visual que faz lembrar Antonioni e a maneira imediata com que Zurlini nos coloca em estado de compaixão com a protagonista, tudo isso conta pontos para a imediata apreciação do filme. Cardinale é Aida, uma mulher bela e pobre, largada de maneira cruel pelo namorado calhorda, mas será outro personagem que se tornará o elo de maior identificação com o espectador: Lorenzo (Jacques Perrin), o garoto rico de 16 anos que se apaixona por Aida. Não por acaso, Lorenzo é irmão do tal namorado cafajeste e fujão, embora ela não saiba disso.

A MOÇA COM A VALISE conta com um momento excepcional, o melhor do filme pra mim, que é aquele em que Lorenzo, completamente apaixonado por Aida e querendo parecer mais adulto do que aparenta, toma um porre no hotel, enquanto sua amada dança com outros homens. Jacques Perrin, que na época tinha 19 anos de idade e já um exemplo de sensibilidade, voltaria a trabalhar com Zurlini em DOIS DESTINOS (1962), novamente interpretando um personagem de nome Lorenzo. Poder-se-ia dizer que Claudia Cardinale, com sua mistura de beleza voluptuosa e inocência, é a razão de ser do filme, mas toda a carga dramática de A MOÇA COM A VALISE está nas mãos de Jacques Perrin. Ele é a alma do filme. E Zurlini, com sua sensibilidade, nos faz lembrar de como dói a primeira paixão não correspondida, a primeira dor de cotovelo. Há também o aspecto social, que é mostrado de maneira mais sutil por Zurlini, cineasta de tendências esquerdistas, mas isso acaba sendo eclipsado pela paixão de Lorenzo por Aida.

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