quinta-feira, agosto 23, 2007

ASAS DE ÁGUIA (The Wings of Eagles)



Depois da obra-prima RASTROS DE ÓDIO (1956), John Ford voltou a um assunto que ele tinha ainda mais intimidade: o universo da Marinha tendo a guerra como pano de fundo. O personagem central de ASAS DE ÁGUIA (1957), Frank 'Spig' Whead, é amigo de Ford, um militar que começou a fazer roteiros para cinema depois de ter ficado paralítico. John Wayne o interpreta, dando ao personagem a costumeira simpatia fordiana. A tática de Ford, nesses filmes biográficos a exemplo de A PAIXÃO DE UMA VIDA (1955), é trazer leveza e incitar risos ao mostrar situações cômicas. Assim, logo no começo, vemos uma engraçada rixa entre os militares da Marinha e os do Exército e um elogio ao jeito meio irresponsável de ser, na cena em que Wayne dá um passeio de avião, numa seqüência admirável. Em seu terceiro ato, o filme conta com cenas reais da Segunda Guerra.

Os momentos mais dramáticos de ASAS DE ÁGUIA são, sem dúvida, a cena do acidente e as cenas de recuperação no hospital. Nas cenas do hospital, o personagem de Don Dailey é essencial, tanto para a milagrosa recuperação de Spig, quanto para o vínculo de amizade, que acaba sendo mais forte que a própria relação do protagonista com sua esposa, vivida por Maureen O'Hara. Por falar na esposa de Spig, dizem que ela sofria de dependência alcoólica, coisa que Ford tratou de ocultar ou diminuir, talvez em consideração ao amigo. Em compensação, ainda que tente suavizar, não há como fugir do fato de que Spig era bem negligente para com sua mulher e suas filhas. Os heróis de Ford, sejam dos drama de guerra, sejam dos westerns, parecem incapazes de viver uma rotina normal com suas famílias, preferindo o perigo e a glória das batalhas e a companhia menos exigente dos amigos.

Ao que parece, Ford se identificava com Whead, já que ele mesmo, durante a infância, também passou meses deitado numa cama, tendo os livros como companhia, fato identificado no belo COMO ERA VERDE O MEU VALE (1941). É a tal história de que há males que vêm para o bem. Assim, o acidente que lhe quebrou o pescoço também fez com que ele se tornasse um bom escritor, tendo trabalhado com cineastas de peso e sendo duas vezes indicado ao Oscar. Frank Whead foi roteirista de vários filmes, sendo os mais famosos HERÓIS DO AR (1936), de Howard Hawks, PILOTO DE PROVAS (1938), de Victor Fleming, A CIDADELA (1938), de King Vidor, e ASAS HERÓICAS (1932) e FOMOS OS SACRIFICADOS (1945), ambos de John Ford. O próprio Ford aparece no filme, interpretado por Ward Bond, que usou roupas do vestuário do próprio diretor para ficar mais parecido com ele.

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