segunda-feira, dezembro 31, 2018

TOP 20 2018 E O BALANÇO DO ANO

1. ARÁBIA, de João Dumans e Affonso Uchôa
2. O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO, de Yorgos Lanthimos
3. À SOMBRA DE DUAS MULHERES, de Philippe Garrel
4. PARAÍSO PERDIDO, de Monique Gardenberg

5. AS BOAS MANEIRAS, de Juliana Rojas e Marco Dutra
6. EM CHAMAS, de Lee Chang-dong
7. TRAMA FANTASMA, de Paul Thomas Anderson
8. DEIXE A LUZ DO SOL ENTRAR, de Claire Denis

9. VERÃO, de Kirill Serebrennikov
10. ASAKO I & II, de Ryûsuke Hamaguchi
11. ME CHAME PELO SEU NOME, de Luca Guadagnino
12. HEREDITÁRIO, de Ari Aster

13. LADY BIRD - A HORA DE VOAR, de Greta Gerwig
14. CAFÉ COM CANELA, de Glenda Inácio e Ary Rosa
15. TULLY, de Jason Reitman
16. VINGADORES - GUERRA INFINITA, de Anthony e Joe Russo

17. CANASTRA SUJA, de Caio Sóh
18. A CÂMERA DE CLAIRE, de Hong Sang-soo
19. O AMANTE DUPLO, de François Ozon
20. O BEIJO NO ASFALTO, de Murilo Benício

Menções honrosas

AMANTE POR UM DIA, de Philippe Garrel
RASGA CORAÇÃO, de Jorge Furtado
CUSTÓDIA, de Xavier Legrand
PONTO CEGO, de Carlos López Estrada
SEVERINA, de Felipe Hirsch
PARIS 8, de Jean-Paul Civeyrac
UMA NOITE DE 12 ANOS, de Álvaro Brechner
EX-PAJÉ, de Luiz Bolognesi
MISSÃO: IMPOSSÍVEL - EFEITO FALLOUT, de Christopher McQuarrie
FERRUGEM, de Aly Muritiba

2018 não foi um ano fácil. Foi um ano comprido e sofrido. A Copa do Mundo parece ter ocorrido há muitos meses. E as eleições foram por demais desgastantes, especialmente para aqueles que lutaram pela manutenção da democracia e por um governo que respeitasse mais a inteligência e a sensibilidade do que a estupidez e a brutalidade. Em vez disso, vamos torcer e lutar para que nossas conquistas sejam pelo menos mantidas ao longo desse processo que só Deus sabe como se dará.

Para minha vida pessoal também não foi fácil. Mas ao menos posso dizer que tentei, mesmo levando cabeçadas e nadando muitas vezes contra a maré. Quando portas pareciam se abrir, ou eu não sabia como lidar e estragava tudo, ou essas mesmas portas se fechavam rapidamente. Foi o ano em que comecei a fazer análise. Comecei tarde demais, eu diria. Mas acho que só isso já tem algum significado: ando querendo descobrir mais sobre mim, cuidar mais de mim. Tentar entender o que se passa e se passou. Também ando cuidando mais de mim do ponto de vista físico. 

Foi um ano também muito cansativo do ponto de vista do trabalho. Meu corpo cansado não aguentou e o blog acabou sendo prejudicado por isso. Nunca em nenhum outro ano eu escrevi tão pouco - houve um bloqueio criativo também para a criação de outros textos. Veio uma sensação de que meus escritos são ruins. E de que, no blog, só escrevo agora para mim. Mas, mesmo em tempos de decadência de blogs, até acho que estou resistindo. Cá estou fazendo a tradicional postagem de fim de ano, que preparo com alguma antecedência, pelo trabalho que dá. Alguém deve estar lendo, tenho certeza. Vamos aos filmes.

A melhor alegria deste ano para os cinéfilos foi a excelente safra de filmes brasileiros de alta qualidade. Se no ano passado nenhum filme brasileiro esteve presente em meu top 20, neste ano tenho seis filmes em minha lista. Este foi o ano em que eu tive certeza de que o cinema brasileiro é um dos melhores do mundo. Ajudou muito ler os livros da Andrea Ormond, mas também ajudou demais poder ver esses filmes maravilhosos no cinema e eles falarem tanto para o nosso momento.

Sim, pois, levando em consideração a situação política em que nos encontramos, cada gesto se reveste de uma importância imensa. Por isso ARÁBIA, da dupla João Dumans e Affonso Uchôa, encabeça minha lista de favoritos. É o filme que mais fala à classe trabalhadora, que mais tem um espírito de rebelião, mas também de certa melancolia poética poucas vezes vista em nosso cinema.
Nosso cinema em 2018 foi bem plural: tivemos um melodrama musical maravilhoso e romântico e que faz com que nos esqueçamos dos problemas do dia a dia para adentrar uma espécie de paraíso que nos enfeitiça e aquebranta nosso coração com o melhor da música feita sem medo de ser cafona ou exagerada. PARAÍSO PERDIDO, de Monique Gardenberg, só poderia ser brasileiro. Além de tudo, é um filme que louva toda forma de amar. 

Um dos melhores filmes de terror do ano também foi brasileiro, sim, senhor. AS BOAS MANEIRAS, de Juliana Rojas e Marco Dutra, conta uma história de lobisomem como se nunca viu antes. Dividido em lado A e lado B, no primeiro lado do disco temos uma relação de afeto entre duas mulheres de classes sociais distintas; e no outro lado, a história de amor entre mãe e filho, um filho que por acaso é um filhote de lobisomem.

Falando em afeto, como não gostar do baiano CAFÉ COM CANELA, de Glenda Inácio e Ary Rosa? É dessas obras que enchem o coração de amor e é feito com uma simplicidade que encanta ainda mais. CANASTRA SUJA, de Caio Sóh, é outra obra feita na raça, mas com atores conhecidos no elenco. Uma obra que vai fundo na desgraça de uma família, até lembrando Nelson Rodrigues. E, pra fechar os brasileiros, eis que no final do ano aparece uma surpresa linda: uma adaptação de uma peça de Nelson dirigida pelo estreante Murilo Benício. O texto original de O BEIJO NO ASFALTO foi lançado em 1960, mas o filme parece falar mais ainda para o cenário dos dias de hoje, um cenário de distopia crescente.

O cinema de horror aparentemente não foi tão cheio de grande obras, pelo menos dentre as que surgiram no circuito comercial, mas podemos destacar, além do já citado AS BOAS MANEIRAS, dois filmes tão distintos entre si e que poderiam ser muito bem classificados no rótulo pós-horror, O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO, de Yorgos Lanthimos, e HEREDITÁRIO, de Ari Aster. O primeiro nem está aparecendo nas listas de horror por ser tão diferente, mas foi o filme que mais me meteu medo neste ano, pois lida com o medo irracional. Já a obra de estreia de Aster tem o mérito de nos apresentar à tragédia pessoal dos personagens (o que é a cena da crise alérgica, hein?) para só então adentrar o horror explícito mais próximo do convencional.

Tangenciando o horror e adentrando a seara do suspense, tivemos o maravilhoso EM CHAMAS, de Lee Chang-dong, que encanta com a delicadeza da direção e o impacto de vários momentos eletrizantes. O AMANTE DUPLO, de François Ozon, por sua vez, já é daqueles suspenses eróticos desavergonhados que costumavam produzir aos montes nos anos 90, mas que infelizmente andam meio sumidos. A diferença é que temos um cineasta que está sempre consciente do que está fazendo. Por isso é tão divertido. 

Dos filmes do Oscar, tivemos algumas belezuras: TRAMA FANTASMA, de Paul Thomas Anderson, é uma história de amor das mais sombrias já contadas, mas também das mais belas; ME CHAME PELO SEU NOME, de Luca Guadagnino, é também uma história de amor, mas bem mais solar e com uma sexualidade pulsante; LADY BIRD - A HORA DE VOAR, de Greta Gerwig, é a história do difícil amadurecimento da jovem Lady Bird e sua busca de sair de sua cidade natal, apesar dos obstáculos.

E se 2018 foi um ano sem um Woody Allen (triste isso), ao menos tivemos o prazer de ver duas obras de dois grandes cineastas da atualidade surgindo nos cinemas. Separei só uma de cada para este top 20: À SOMBRA DE DUAS MULHERES, do francês Philippe Garrel, que trata de relações sentimentais de forma mágica (como eu amo este filme!); e A CÂMERA DE CLAIRE, do sul-coreano Hong Sang-soo, desses diretores que não precisam se esforçar para parir uma pérola atrás da outra.   

E, pelo visto, tratar de relações ou da busca de um amor parece ser quase que um denominador comum dessa lista. Daí surge uma obra como DEIXE A LUZ DO SOL ENTRAR, de Claire Denis, que trata da busca do amor romântico por parte de uma mulher madura divorciada. E o que dizer de ASAKO I & II, de Ryûsuke Hamaguichi, que lida de forma singular com a história da paixão de uma jovem por um rapaz e de uma posterior virada na sua vida? E tivemos um dos mais felizes exemplares do cinema russo, o delicioso VERÃO, de Kirill Serebrennikov, que fala de música pop, mas também de relacionamentos, de um triângulo amoroso. E pensar na vida íntima e no que o "eu do passado" pode dizer para o "eu do presente" traz uma obra tão surpreendente como TULLY, de Jason Reitman.

Para não dizer que não falei de blockbusters, destaque para o melhor filme do universo cinematográfico Marvel até o momento. VINGADORES - GUERRA INFINITA, dos irmãos Anthony e Joe Russo, faz tudo o que veio de HOMEM DE FERRO para cá ter valido a pena. Enquanto a DC come poeira tentando ser engraçada como a Marvel, a Casa das Ideias sabe trazer uma história sombria no momento certo. Na expectativa pela continuação.

Top 5 Piores do Ano

Acho que neste ano eu evitei ainda mais tranqueiras do que no ano passado. Infelizmente acabei perdendo, inclusive, vários filmes de horror que pintaram por aqui e que eu gosto de ver, mesmo os potencialmente ruins. Assim, até pensei em não incluir uma lista de piores. É a parte que menos me interessa. Mas só pra manter a tradição, segue abaixo o que vi de pior nos cinemas:

1. CINQUENTA TONS DE LIBERDADE, de James Foley
2. A MALDIÇÃO DA CASA WINCHESTER, de Peter e Michael Spiering
3. ALGUÉM COMO EU, de Leonel Vieira
4. LUA DE JÚPITER, de Kornél Mundruczó
5. AQUAMAN, de James Wan

As séries e minisséries

Se no ano passado eu vi poucas séries, neste ano vi menos ainda. Por isso, nem acho justo numerar 10. Vamos numerar apenas cinco, então. Vale destacar que uma delas é maravilhosa, a que encabeça a lista, totalmente dirigida pelo jovem mestre Mike Flanagan.

Top 5 Musas do Ano

Quanto à beleza dos rostos femininos, uma das seções de que mais gosto de fazer para o blog funciona como um colírio para os olhos. Desta vez, temos duas brasileiras no mínimo apaixonantes em suas performances.

1. Bruna Linzmeyer (O GRANDE CIRCO MÍSTICO e O BANQUETE)

2. Kaya Scodelario (MAZE RUNNER - A CURA MORTAL)

3. Caroline Abras  (ALGUMA COISA ASSIM)

4. Matilda Lutz  (VINGANÇA)

Irina Starshenbaum (VERÃO)

Clássicos revisitados (ou vistos pela primeira vez) na telona

ACOSSADO, de Jean-Luc Godard
BAR ESPERANÇA (O ÚLTIMO QUE FECHA), de Hugo Carvana
LOUCURAS DE UMA PRIMAVERA, de Louis Malle
O ASSALTO AO TREM PAGADOR, de Roberto Farias
O HOMEM DA CAPA PRETA, de Sergio Rezende
SONATA DE OUTONO, de Ingmar Bergman
STELINHA, de Miguel Faria Jr.
STROMBOLI, de Roberto Rossellini
Z, de Costa-Gavras

Top 20 vistos (pela primeira vez) na telinha (em ordem alfabética)

A LEI DA FRONTEIRA, de Allan Dwan
A PATRULHA DA MADRUGADA, de Howard Hawks
A REGIÃO SELVAGEM, de Amat Escalante
ANTIPORNO, de Sion Sono
CINEMAGIA - A HISTÓRIA DAS VIDEOLOCADORAS DE SÃO PAULO, de Alan Oliveira
ELEGIA DE OSAKA, de Kenji Mizoguchi
FIRST REFORMED, de Paul Schrader
GATOS, de Ceyda Torun
INVERNO DE SANGUE EM VENEZA, de Nicolas Roeg
MULHER MOLHADA AO VENTO, de Akihiko Shiota
NUNCA FOMOS TÃO FELIZES, de Murilo Salles
O CONTO, de Jennifer Fox
PERFUME DE MULHER, de Dino Risi
PRA FRENTE, BRASIL, de Roberto Farias
PROCURA INSACIÁVEL, de Milos Forman
RENDEZ-VOUS EM PARIS, de Éric Rohmer
REPÚBLICA DOS ASSASSINOS, de Miguel Faria Jr.
ROMA, de Alfonso Cuarón

SEM LEI E SEM ALMA, de John Sturges
TERROR CEGO, de Richard Fleischer

Revisões na telinha

BAR ESPERANÇA (O ÚLTIMO QUE FECHA), de Hugo Carvana
BETE BALANÇO, de Lael Rodrigues
CABO DO MEDO, de Martin Scorsese
CORAÇÃO SELVAGEM, de David Lynch
FELIZ ANO VELHO, de Roberto Gervitz
VIDA DE SOLTEIRO, de Cameron Crowe


Feliz 2019!

Lembrando de uma fala de George Constanza de SEINFELD, eu não quero mais ter esperança, minha meta agora é não ter mais esperança nenhuma. De certa forma, até faz algum sentido. Não que esteja sendo pessimista, embora o cenário ajude um bocado a ser, mas a questão é que às vezes esperamos demais e as coisas não acontecem e aí surgem as frustrações. O que não quer dizer que não devamos nos preparar, traçar planos e metas para nossa felicidade pessoal e daqueles que amamos.

Uma coisa que eu aprendi neste ano foi a dar valor às pequenas coisas, às coisas do cotidiano que há alguns anos eu achava pouco importantes, como dar comida ao Jorginho e vê-lo feliz balançando o rabo; dar atenção à minha mãe e às minhas irmãs, por mais que eu me ache pouco atencioso; sair sozinho ou com um amigo ou amiga para um bom cinema (se bem que isso, o cinema, eu não coloco como pequena coisa não); conversar com os poucos amigos mais chegados e estar imensamente grato pela confiança que eles me depositam; estar se sentindo bem fisicamente, já que dores não são nada legais. Enfim, acho que me fiz por entender e isso é até meio óbvio de se dizer, mas às vezes a gente esquece. Interessante a gente estar neste mundo para aprender, mas esquecer e quebrar a cara de novo tantas e tantas vezes, não é?

Para encerrar, desejo que 2019 seja uma surpresa muito positiva para nós em vários campos de nossa vida: afetiva, profissional, financeira, estudantil e que coisas boas como viagens e artes sejam mais presentes. E quem sabe até tenhamos uma reviravolta para melhor no campo da política. Dreaming is free, como diz a canção. Até breve, obrigado pela leitura e viva a arte, vida a resistência e viva o cinema brasileiro!

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