Em determinado momento de BIG LITTLE LIES (2017), Madeline (Reese Witherspoon) conversa com a amiga Celeste (Nicole Kidman), ao telefone, dando a entender que Celeste tem uma vida perfeita, é casada com um homem bom, rico e bonito e tem filhos gêmeos perfeitos. Celeste, que convive com a violência doméstica diariamente, diz, frustrada, que sua vida não é perfeita, que tem passado por coisas ruins também. O marido, vivido por um aterrorizante Alexander Skarsgård, está ali perto, e pergunta à esposa, em tom ameaçador, o que seriam as tais coisas ruins que ela comenta com a amiga.
A princípio, BIG LITTLE LIES pode incomodar um pouco por mostrar a rotina de dondocas ricas vivendo na bela cidade litorânea de Monterey, na Califórnia. Mas é fácil se solidarizar com seus dramas, se importar cada vez mais com ela, mesmo os de Madeline, a dondoca-mor da comunidade, que vive ainda enciumada do ex, fazendo com que o novo marido se sinta rejeitado, por mais companheiro que ele seja.
Jane, a personagem de Shailene Woodley, é nova na cidade, e logo sabemos que seu drama é o mais perturbador: ela tem um filho nascido de um estupro. E já no primeiro dia de escola seu garotinho é acusado de ter agredido uma menina, filha de uma das mulheres mais influentes da cidade, Renata Klein (Laura Dern). O menino não sabe quem é o pai e tem muita curiosidade em saber suas origens.
Deu para perceber que BIG LITTLE LIES tem como principal tema a questão da violência doméstica. Mas a abordagem que o criador e roteirista David E. Kelley usa faz toda a diferença. Os créditos de abertura são lindos, apresentando apenas as personagens femininas dirigindo seus carros com seus filhos pequenos no banco traseiro. Mulheres e crianças são os grandes protagonistas dessa história. Mesmo Laura Dern desempenhando uma espécie de megera na trama, a série trata de mostrar a sororidade entre as personagens de modo tocante.
A série começa com um crime que é deixado em aberto até o final. E talvez a questão do crime seja um pouco o calcanhar de Aquiles desta temporada de BIG LITTLE LIES (inicialmente pensada como minissérie, mas que foi renovada por mais um ano). Isso acontece porque vários personagens que não desempenham papéis importantes, moradores de Monterey e supostas testemunhas dos atos das protagonistas, falam sobre o que viram e que poderia ter sido um dos motivos de a tal morte ter acontecido. Mas até isso funciona bem no final.
BIG LITTLE LIES ganhou quatro prêmios no Globo de Ouro: melhor minissérie, melhor atriz (Nicole Kidman), melhor ator coadjuvante (Alexander Skarsgård) e melhor atriz coadjuvante (Laura Dern).
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