segunda-feira, janeiro 15, 2018

STROMBOLI

Ter visto EU SOU INGRID BERGMAN, documentário de Stig Björkman, ajuda bastante a nos levar aos sentimentos da personagem Karin, de STROMBOLI (1950), primeira parceria de Ingrid Bergman com o diretor italiano Roberto Rossellini. Foi nas produções deste filme que Ingrid teve um caso extraconjungal com Rossellini e ficou grávida. Isso significou para ela uma espécie de suicídio comercial de sua carreira em Hollywood, tendo ela se tornado persona non grata nos Estados Unidos.

Sua vida, certamente, passou por uma reviravolta tremenda. Imagina só: abandonar a família que tinha até então e passar a viver em um outro país e formar uma nova família com esse cara de filmes baratos mas cultuados. De certa forma, Karin, a mulher que cai na cilada de casar com um sujeito que mora em uma ilha que não tem nada, a não ser um vulcão ativo, lembra um bocado a própria atriz sueca. Embora a atriz estivesse ali porque queria e não numa situação de prisão. No entanto, tanto a atriz quanto a personagem têm que enfrentar o preconceito de uma sociedade.

Visto hoje, é possível que STROMBOLI seja visto com certa estranheza pelo público, pela mistura de um tipo de dramaturgia que lembra o que se fazia em Hollywood na época, misturado com o que havia de mais melodramático no cinema italiano e incluindo a utilização de não-atores também, característica do neorrealismo italiano. Mas tudo isso pode ser abraçado com muito carinho.

Até porque o filme é narrado de uma maneira tão intensa que é muito fácil nos colocarmos no lugar de Karin. Há, porém, uma cena que é vista com horror pela personagem, mas que pode ser encarada com maravilhamento pelo espectador: uma cena filmada em tom documental, até por ser de fato o registro de pescadores em um ritual de pesca de peixes enormes. Eles cantam enquanto levantam as redes, que trazem o que mais parecem tubarões para seus barcos. É tão admirável quanto a cena do estouro da boiada em RIO VERMELHO, de Howard Hawks.

E há, no final, aquilo que se tornaria muito comum de se ver na filmografia de Rossellini: sua busca pelo religioso, por Deus. Seu filme seguinte já seria FRANCISCO, ARAUTO DE DEUS (1950). Quanto ao personagem do marido, Antonio, vivido por Mario Vitale, trata-se de um homem simples, comum, que fica um bocado eclipsado pela complexidade e brilho de Karin, uma mulher que, já no próprio filme talvez tenha sido vista pelas alas mais tradicionais da sociedade como um exemplo de mulher imprudente. Hoje é muito mais fácil vê-la como alguém que precisava usar o que dispunha, ou seja, sua beleza e sua sedução, para tentar conseguir o que desejava. Mas o filme, o diretor ou o destino parecem querer pregar-lhe uma lição.

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