sábado, janeiro 27, 2018

LIGADOS PELO AMOR (Stuck in Love)

Em certo momento de LIGADOS PELO AMOR (2012), o personagem de Greg Kinnear, um escritor famoso, confidencia para sua ex-esposa, vivida por Jennifer Connelly, que ele não é um bom escritor, ele é mesmo um bom revisor, ele está sempre pensando no que poderia reescrever em sua vida para que ela pudesse dar certo. É uma das falas mais dolorosas do filme, que trata de uma situação bastante sensível nos relacionamentos: a do sujeito que espera pela mulher voltar depois da traição.

Mas o filme não é apenas sobre a história de Bill Borgens, o personagem de Kinnear, e de sua esposa que agora mora com outro cara. Há também a história de seus filhos, que não poderiam ser mais diferentes: enquanto Sam (Lilly Collins), a mais velha, tem um pensamento mais cínico sobre o amor e a vida a dois, pela experiência de decepção que teve com a mãe, ela vive tendo relações com rapazes que ela faz questão de nunca mais ver. Ela passa a sua ideologia de vida amarga para o seu primeiro livro publicado.

Já o garoto mais novo, Rusty (Nat Wolff), tem uma visão mais romântica da vida e é apaixonado pela garota problemática e viciada em drogas da escola (Liana Liberato). Embora haja alguns momentos bons entre os dois, a maior força do filme está mesmo nos casos envolvendo os personagens de Kinnear e Collins, pelo aspecto mais singular de suas condições. Além do mais, Liana Liberato é o elo fraco do elenco.

O diretor Josh Boone, pouco tempo antes de realizar o popular A CULPA É DAS ESTRELAS (2014), teve a sensibilidade de fazer um filme em que o espectador fica a maior parte do tempo com um nó na garganta, sem que as emoções se desaguem em choro por um bom tempo. Trata-se de uma habilidade admirável. Ainda mais quando vemos uma cena tão bela quanto a que se passa no carro, quando Sam está com o futuro namorado Louis (Logan Lerman), e ambos escutam uma canção bem especial, que põe em cheque a visão cínica do amor de Sam. Trata-se da canção "Between the bars", de Eliott Smith, artista um tanto maldito, por seu envolvimento com drogas, depressão e suposto suicídio ainda muito jovem.

Mas o que mais deixa a gente com o coração na mão são as vezes em que Borgens encontra a mulher por quem ainda nutre uma intenção paixão. As tentativas de ela se esquivar só tornam a tensão ainda mais interessante e também dolorosa. Nem sempre é fácil seguir em frente, mas o filme não fica de chorar pitangas: há algo que é revelado só no final que faz o modo de ver a vida do personagem de Kinnear fazer sentido. Há também a relação de completo rancor da filha com a mãe, o que também rende alguns momentos bastante emotivos.

Enfim, LIGADOS PELO AMOR, por mais que não tenha como se aprofundar em tantos personagens em apenas uma hora e meia de duração, consegue dar contar de narrar essa história com muito amor pelos seus personagens. Só por isso, ele já merece uma conferida, até por não ser uma obra muito conhecida. Além do mais, quem ama livros e música pode sentir um especial carinho pelos personagens e pelos diálogos. A ideia de que um livro ou um álbum pode conter um bocado da personalidade de certa pessoa é muito bonita e possivelmente verdadeira.

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