sexta-feira, março 21, 2008

SINDICATO DE LADRÕES (On the Waterfront)



Cineasta festejado por muitos cinéfilos, Elia Kazan nunca foi dos meus favoritos. Verdade que vi poucos filmes dele. Apenas UMA RUA CHAMADA PECADO (1951), chato e excessivamente teatral; VIDAS AMARGAS (1955), o que eu menos gosto dos três filmes de James Dean; CLAMOR DO SEXO (1961), que penso em rever só por causa da Natalie Wood; e O ÚLTIMO MAGNATA (1976), o mais chato de todos que vi. Sei que classificar como "chato" não é bem adequado para quem leva cinema a sério, mas foi o primeiro adjetivo que me veio à mente. Depois de ver o título SINDICATO DE LADRÕES (1954) na lista dos 100 melhores filmes americanos de todos os tempos segundo o AFI , resolvi dar mais uma chance para o "cineasta delator", até porque trata-se de um filme bem popular e que eu me sentia na obrigação de ver. Realmente, entre os poucos trabalhos dele que vi, esse é o melhor e o que mais dá o que pensar, principalmente ao estabelecer comparações com a situação de delator de Kazan, já que o próprio filme é a respeito disso. Só que os delatores, no filme, são os caras que têm a coragem de falar a verdade e de se tornarem heróis - ou mártires. E pelo que eu andei lendo por aí, o tema-chave do cinema de Kazan é a traição.

Interessante que quando ele delatou seus companheiros na época do macarthismo aparentemente ele tinha a convicção de que estava fazendo a coisa certa, tendo publicado no New York Times um elogio à delação. O livro "O Cinema Americano dos Anos Cinqüenta", de Olivier-René Veillon, conta isso de maneira sucinta, mas cita um trecho que eu acho bastante sintético e representativo. Ele afirmou no citado artigo: "Os filmes que fiz e as peças que escolhi para montar são o reflexo de minhas convicções". Mas uma coisa é delatar um bando de mafiosos que mandam matar seus próprios membros que ousam abrir o bico, outra é entregar companheiros de trabalho e condená-los à lista negra em Hollywood pela simples suspeita de simpatia ao partido comunista.

Claro que isso não tira o brilho de SINDICATO DE LADRÕES, nem da interpretação magistral de Marlon Brando e do ótimo desempenho de Eva Marie Saint (INTRIGA INTERNACIONAL). Na edição especial do dvd há, entre os extras, uma análise da célebre seqüência em que o personagem de Brando está no carro conversando com o seu irmão, vivido por Rod Steiger. O irmão tenta fazê-lo desistir da idéia de delatar o seu chefe corrupto. Em troca, ele lhe conseguiria um emprego tranqüilo e bem remunerado. A interpretação dos dois atores nessa cena, carregada de amor fraternal, apesar das circunstâncias violentas e de uma arma apontada para o irmão a certa altura da seqüência, é mesmo um dos momentos mais importantes do filme.

Na trama, Brando é um ex-boxeador que vive trabalhando (ou de bobeira) no navio de uma cidade portuária. O local é dominado pelo chefão Johnny Friendly (Lee J. Cobb, de 12 HOMENS E UMA SENTENÇA), que trata os seus empregados como burros de carga, que ainda correm o risco de perderem a vida caso abram o bico sobre os seus negócios desonestos. Sua consciência fala mais alto quando ele participa, ainda que de forma não intencional, da morte de um dos homens mais queridos da cidade, irmão da personagem de Eva Marie Saint, que tinha acabado de voltar de uma escola de freiras para passar uns tempos com seus pais. Seu relacionamento com a garota e as tentativas do Padre Barry (Karl Malden) de buscar a verdade fazem com ele fique tentado a contar tuo para a polícia e para a comunidade.

SINDICATO DE LADRÕES ganhou 8 oscars: filme, diretor, ator (Marlon Brando), atriz coadjuvante (Eva Marie Saint), roteiro, edição, fotografia em preto e branco e direção de arte em preto e branco. Pra quem pensa que a academia estava sendo condencendente com o delator, é sempre bom lembrar que os concorrentes a melhor filme daquele ano não eram muito expressivos: A NAVE DA REVOLTA, de Edward Dmytryk; AMAR É SOFRER, de George Seaton; SETE NOIVAS PARA SETE IRMÃOS, de Stanley Doney; e A FONTE DOS DESEJOS, de Jean Negulesco. Bom, não vi nenhum dos quatro, mas não devem ser melhores que o filme de Kazan. Por outro lado, 1955 também foi o ano em que JANELA INDISCRETA recebeu uma indicação de direção para Alfred Hitchcock. JANELA...sequer foi indicado a melhor filme. Fala sério, hein!

P.S.: E LOST acabou com um outro gancho enigmático e só retorna dia 24 de abril. Vai fazer falta durante as próximas seis semanas. Mas valeu esse episódio que explicou direitinho uma dúvida que havia ficado na nossa cabeça desde o final da segunda temporada.

Nenhum comentário: