segunda-feira, março 17, 2008
A NOIVA DE FRANKENSTEIN (Bride of Frankenstein)
Talvez por esperar demais de A NOIVA DE FRANKENSTEIN (1935) acabei me decepcionando um pouco. O filme costuma receber de muitos o título de "a obra-prima de James Whale" e como eu já havia gostado bastante de O HOMEM INVISÍVEL (1933), achava que a continuação de FRANKENSTEIN (1931) ia me deixar boquiaberto. Não que o filme não seja realmente ótimo. Pra começar, diferente das obras anteriores de Whale, este filme foi feito a partir de um roteiro original, utilizando-se até mesmo de um pouco de metalinguagem, ao apresentar no início do filme a própria Mary Shelley, autora do romance "Frankenstein", conversando com Lord Byron e Percy Shelley sobre uma possível continuação para a estória do cientista que criou um monstro a partir de pedaços de cadáveres.
Do filme original, está de volta Boris Karloff, no papel da criatura, que não morreu no incêndio do final do primeiro filme, bem como, claro, o Dr. Henry Frankenstein (Colin Clive). Para o papel de Elizabeth, a noiva do cientista, devido a problemas de saúde, a atriz original, Mae Clark, não pôde participar do filme, sendo substituída por uma melhor e mais bela: a inglesa Valerie Hobson. Assim, temos nessa continuação uma Elizabeth mais atraente e com sotaque inglês. E por falar em localidade, o lugar onde se passa o filme ainda é um mistério. Não se sabe se é na Inglaterra, ou na Alemanha ou em outro país da Europa. O tempo também é nebuloso. Mas o grande destaque de A NOIVA DE FRANKENSTEIN é mesmo o personagem de Ernest Thesiger, no papel do diabólico Dr. Pretorius. Ao lado dele, o Dr. Frankenstein fica parecendo um homem frágil e vítima das artimanhas desse homem, conhecedor de magia negra. Achei até estranho um homem que é capaz de criar miniaturas de seres humanos se interessar pelo trabalho de um cientista que fez um monstro pavoroso e imperfeito e que só causou terror ao vilarejo.
E por falar nas miniaturas, mais uma vez James Whale e seus técnicos fizeram milagre com efeitos especiais. Ele já tinha deixado todo mundo admirado com os excepcionais efeitos visuais de O HOMEM INVISÍVEL, um marco para a história do cinema no campo dos efeitos. Dessa vez ele também fez um trabalho impecável. Na trama, depois de sobreviver ao incêndio, a criatura de Frankenstein sai pelo mundo, sendo constantemente atacado pelos homens. Apenas um deles, um eremita cego, o acolhe com carinho, ensinando-o a falar e tratando-o como uma bênção, um amigo que há tanto tempo ele esperava para aliviar sua solidão. Inclusive, uma das seqüências mais belas do filme é a do monstro chorando ao ver o eremita orando a Deus por Ele ter-lhe enviado um amigo. Pra mim, é a melhor e mais sincera seqüência de um filme que se caracteriza pela autoparódia. A primeira aparição do eremita é marcante, tocando "Ave Maria", de Schubert, num violino, acalmando a fera que sorri de satisfação com a música e fica mais feliz ainda com o pão e o vinho oferecido pelo bondoso cego.
Nos comentários em áudio presentes no dvd, fala-se das inúmeras referências cristãs presentes no filme. A cena da criatura comendo do pão e bebendo do vinho seria uma espécie de metáfora grotesca da última ceia de Jesus. Por mais que a censura estivesse de olho na quantidade de citações a Deus e à Bíblia de maneira pouco respeitosa, Whale e o roterista deram um jeito de driblar e fazer uma obra relativamente transgressora, embora eu não ache que o filme falte com o respeito com o Cristianismo em momento algum. Acho até bonita a cena em que o monstro é alçado e amarrado pelos homens como se fosse Jesus no calvário. Mas até o momento eu não falei da suposta estrela do filme, que seria a "noiva", a criação de Henry Frankenstein e do Dr. Pretorius. Na verdade, por mais que o visual da "noiva" seja bem interessante, é meio frustrante quando ela aparece, já bem perto do filme terminar. Também acho que faltou mais criatividade para a finalização da estória. Mas não posso encerrar sem mencionar a brilhante trilha sonora de Franz Waxman, que criou um tema musical para cada personagem, como Leone fez em ERA UMA VEZ NO OESTE e como é feito nas óperas.
Curiosamente, A NOIVA DE FRANKENSTEIN estreou nos Estados Unidos na Sexta-Feira Santa de 1935.
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