sábado, março 15, 2008

CADA UM COM SEU CINEMA (Chacun son Cinéma ou Ce Petit Coup au Coeur Quand la Lumière s'Éteint et que le Film Commence)



A maior surpresa pra mim no coletivo CADA UM COM SEU CINEMA (2007) foi a inclusão de "Absurda", de David Lynch. Não me lembrava ou não tinha percebido que ele estava na lista dos diretores do projeto. Até já tinha baixado e visto na telinha, mas ver um Lynch, ainda que de três minutos, na telona e com legendas foi ótimo! Com direito a grito da Laura Palmer e tudo mais. Como se trata de muitos curtas fica difícil lembrar de cada um, portanto, vou escrevendo apenas sobre os mais memoráveis e à medida que vou puxando da memória. Alguns são realmente péssimos, como o primeiro, dirigido por Raymond Depardon. Não sei de onde tiraram esse cineasta. É o único nome que eu não conhecia do elenco.

Acho que CADA UM COM SEU CINEMA só não ficou mais interessante porque o tempo de três minutos é muito pouco pra um cineasta desenvolver uma idéia. Alguns parecem ter sido feitos sem o mínimo esforço de fazer algo ao menos bom. Mas podemos dizer que metade dos pequenos filmes são bons e alguns chegam a ser quase que geniais. Como o de David Cronenberg - "At the Suicide of the Last Jew in the World in the Last Cinema in the World". O título já diz tudo, mas o filme, protagonizado pelo próprio Cronenberg com uma arma na cabeça e ameaçando se suicidar foi uma surpresa pra mim e se destaca bastante dos demais. É simples, barato e original. Já alguns diretores preferiram caprichar um pouco mais na produção, gastando com cenário e figurinos de época mas com o resultado ficando um pouco aquém do esperado, como o de Chen Kaige.

Uma das principais diversões para o cinéfilo é advinhar de quem é o curta em questão, já que o nome do diretor só aparece no final. Alguns, a gente saca de primeira de quem é a autoria, como os de Nanni Moretti (ótimo), Abbas Kiarostami (um monte de mulheres chorando no cinema), Takeshi Kitano (ele aparece no curta, ficando fácil de advinhar), Amos Gitai (as imagens sobrepostas) e Gus Van Sant. Engraçado que o que mais fez com que eu identificasse o filme de Van Sant foi a figura do jovem de boa aparência. E como o cineasta tem cada vez mais se dedicado ao mundo dos jovens, ficou na cara que o segmento era dele. Aliás, que imagem bonita a da mulher na praia apresentada na tela do cinema.

Os mais surpreendentes foram os de Wim Wenders, que se passa na África, e o de Roman Polanski, que iniciou uma série de segmentos engraçados. O segmento do Polanski se chama "Cinéma Erotique" e mostra um casal idoso assistindo EMMANUELLE, o original com a Sylvia Kristel, enquanto um senhor sentado nos fundos fica gemendo alto e dando a impressão de que estaria se masturbando. Mas os que mais me divertiram foram os curtas do Manoel de Oliveira (genial) e do Walter Salles. O do Manoel de Oliveira mostrava o encontro entre Krutchov (Michel Picolli) e o Papa João XXIII. Eu ri bastante e me alegrei com a originalidade e inspiração do nosso querido e centenário cineasta. O de Walter Salles, mostrando Caju e Castanha cantando em frente a um cinema que exibe OS INCOMPREENDIDOS também é uma beleza. Outro supostamente engraçado é o de Lars Von Trier. Mas o recurso é de humor negro e Von Trier faz tempo que não ganha a minha simpatia. A violência gráfica me fez imaginar que se tratava de um filme do Cronenberg, mas felizmente não era. O segmento de Alejandro González Iñarritú também é um dos destaques do coletivo, um dos melhores.

Alguns segmentos fazem homenagens a obras maiores da cinematografia mundial e por isso acabam por serem recebidos com um certo afeto pelos cinéfilos, como o de Claude Lelouch. Não vou lembrar bem qual segmento homenageia qual filme, mas lembro que fiquei feliz ao ver na telona trechos de VIVER A VIDA, de Godard; 8 E 1/2, de Fellini; A PAIXÃO DE JOANA D'ARC, de Dreyer. Bom, tem um filme não muito bom que aparece de relance no curta do Wenders, que é o FALCÃO NEGRO EM PERIGO, do Ridley Scott. Outros filmes são apenas mencionados ou tem suas trilhas sonoras usadas, mostrando apenas o público - caso de O DESPREZO, de Godard. Gostei bastante por exemplo, do recurso de Nanni Moretti, que com a sua simpatia habitual conta de suas experiências com seus filhos e o cinema. Parece que, no cinema de Moretti, nada é mais importante do que os seus filhos. Infelizmente, por problemas de direitos autorais, não foram incluídos os segmentos dos irmãos Coen e de Michael Cimino.

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