sábado, março 22, 2008

NÚPCIAS DE ESCÂNDALO (The Philadelphia Story)



Não é porque os filmes antigos não dão "ibope" aqui no blog que eu vou deixar de falar deles. Até porque esse é mais um do George Cukor. Eu tinha me comprometido a tentar assistir a pelo menos um filme do diretor por semana, mas os últimos que peguei demoraram bastante para degustar o pacote completo. E O VENTO LEVOU (1939) levou mais de duas semanas, já que tinha muitos extras pra conferir. E NÚPCIAS DE ESCÂNDALO (1940) não foi muito diferente, já que eu fiz questão de comprar a edição especial de luxo, que vem com um disco extra, do que alugar aquela versão pobrinha da ClassicLine. E não me arrependi nenhum pouco, já que os extras contidos no disco 2 são tão bons quanto o filme, que eu sinceramente achei um pouco superestimado. Afinal, assim como SINDICATO DE LADRÕES que eu falei logo abaixo, NÚPCIAS DE ESCÂNDALO também consta na relação dos melhores de todos os tempos da AFI. Pra começo de conversa, o filme nem é tão bom quanto O BOÊMIO ENCANTADOR (1938), que tem uma estorinha mais batida, mas emociona e envolve muito mais. Sem falar que por enquanto, A DAMA DAS CAMÉLIAS (1937) permanece sendo o meu favorito do Cukor - levando em consideração que E O VENTO LEVOU não é propriamente dele, claro.

NÚPCIAS DE ESCÂNDALO chama a atenção por ter o encontro de Katharine Hepburn com os dois atores favoritos de Hitchcock: Cary Grant e James Stewart. Eu achei o personagem do Grant ótimo, mas não gostei tanto assim do jornalista interpretado pelo Stewart. Talvez ver os dois atores juntos não tenha combinado muito - não sei se os dois voltaram a fazer filmes juntos outra vez. NÚPCIAS DE ESCÂNDALO é a adaptação de uma peça de sucesso que já havia sido encenada dezenas de vezes pela própria Katharine Hepburn e como ela era assediada pelo milionário Howard Hughes (vide O AVIADOR, de Martin Scorsese), o "aviador" fez questão de comprar os direitos da peça para o cinema para que nenhuma outra atriz a não ser Kate interpretasse a protagonista, de nome Tracy Lord - aliás, esse nome lembra muito o nome daquela atriz famosa, não? :-) E assim, quando chegou a hora de trazer a peça para o cinema, ela escalou o amigo George Cukor para dirigir e a MGM fechou com os dois atores mencionados. A produção ficou a cargo de Joseph L. Mankiewicz. E Cukor fez um trabalho tão bom que o filme nem parece que foi adaptado de uma peça de teatro.

Na trama, Tracy Lord é uma mulher da alta sociedade, recém-divorciada do também rico Dexter Haven (Cary Grant), e que agora está de casamento marcado com outro sujeito, um homem que não faz parte da alta sociedade e que todos dizem não ser ideal para Tracy. James Stewart é o jornalista que é enviado disfarçadamente para a mansão dos Lords para fazer a cobertura dos preparativos para o casamento sem deixar passar nada. Ele e sua parceira, fotógrafa, entram na casa com a ajuda de Dexter, que diz que os dois são amigos da família. O disfarce não dura muito, mas Tracy aceita a presença dos dois assim mesmo. Até porque ela nutre uma certa simpatia pelo repórter e ele fica apaixonado por ela. Enquanto isso, Dexter fica de vez em quando visitando a casa e vendo como as coisas estão indo, com aquele jeito hiperconfiante que só Cary Grant é capaz de passar. E à medida que vai chegando perto o dia da cerimônia, mais Tracy vai descobrindo que o casamento é um erro.

Achei curioso o fato de que NÚPCIAS DE ESCÂNDALO, mesmo sendo um dos filmes mais famosos e elogiados tanto da carreira de Cukor quanto da de Hepburn não foi sequer mencionado na entrevista que o diretor fez para Peter Bogdanovich. Talvez por pura falta de atenção, já que a entrevista mais parece um bate-papo informal. Quanto aos documentários presentes no dvd, dois deles são bem especiais: uma biografia da Kate Hepburn narrada pela própria, se eu não me engano no ano de 1992, quando ela estava velhinha, mas ainda bem sóbria. Kate teve uma das carreiras mais longas de Hollywood e o documentário de pouco mais de uma hora hora mostra desde sua infância até o seu último título importante, ao lado de Henry Fonda em NUM LAGO DOURADO (1981), uma bela estória sobre o amor entre dois idosos. Mas o grande astro do documentário é mesmo Spencer Tracy, o grande amor da vida dela, com quem ela teve um caso abafado pela imprensa até a morte de Tracy, que ocorreu pouco dias depois das filmagens de ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR (1967). Kate disse que nunca teve coragem de ver o filme, pois pra ela seria muito doloroso. Já o documentário sobre Cukor, também com cerca de uma hora de duração, pula alguns filmes do diretor e só vai até NASCE UMA ESTRELA (1954). É como se a carreira dele atingesse o auge ali e o resto não tivesse mais importância. Nem mesmo MY FAIR LADY (1964) é citado.

Somam-se aos extras dois curtas-metragens bem divertidos: AQUELE SENTIMENTO INFERIOR, comédia sobre um sujeito que tem complexo de inferioridade; e o desenho A PULGA SEM CASA, onde uma pulga tenta se alojar no pêlo de um cachorro. Os dois curtas são ótimos.

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