terça-feira, abril 15, 2014

O PASSADO (Le Passé)























O iraniano Asghard Farhadi já havia mostrado a sua força como cineasta em obras intensas como PROCURANDO ELLY (2009) e A SEPARAÇÃO (2011). As questões familiares e as tensões existentes a partir de uma situação perturbadora continuam trazendo combustível para mais uma obra conduzida magistralmente por Farhadi: O PASSADO (2013), que também trata da separação de um casal, a exemplo do filme anterior, mas que apresenta muito mais subtramas e personagens.

Os primeiros que nos são apresentados são Marie (Bérénice Bejo) e Ahmad (Ali Mosaffa). Ela espera por ele no aeroporto. Difícil ver a conversa "muda" entre os dois, separados por uma parede de vidro, e não lembrar do oscarizado O ARTISTA, o filme que apresentou para o mundo a belo Bejo. Durante a conversa no carro, sabemos que Ahmad está ali para assinar os papéis do divórcio. Mas há ainda um clima de que o amor vivido no passado pelos dois ainda tem alguma fagulha. O filme não explicita isso, mas acaba ficando no ar, talvez pela beleza e a graça de Marie/Bejo e o modo como facilmente nos identificamos com o personagem de Mosaffa.

Apesar de filmado na França, O PASSADO tem um pé no Irã: Ahmad é iraniano, assim como o novo amor de Marie, Samir (Tahar Rahim, protagonista de O PROFETA). Saber que há um outro homem na vida de Marie dói tanto em Ahmad quanto em nós, espectadores, embora ele consiga parecer indiferente muito mais facilmente. Durante a chegada à casa de Marie, já vemos um pequeno estresse familiar, forçado principalmente pelo filho de Samir, que mora agora ali e brinca amigavelmente com a filha de Marie.

É mais um ponto a favor de um filme que se encaminha cada vez mais para situações extremas de conflitos familiares, como a filha mais velha que não quer voltar pra casa, ou a situação bem barra-pesada que Samir enfrenta, com a esposa em coma por ter cometido suicídio. E o interessante e impressionante é que em meio a tantas desgraças e problemas dos personagens, Farhadi opta sempre pela tensão, ao invés de preferir o melodrama. Isso já se fazia bastante presente em PROCURANDO ELLY e continua sendo sua marca também nesta produção.

Dos cineastas estrangeiros que foram convidados a filmar na França, Farhadi, a exemplo do finlandês Aki Kaurismäki (com O PORTO), ainda conserva muito de suas raízes, embora seus filmes já carreguem tonalidades mais universais. Diferente, por exemplo, de Abbas Kiarostami (com CÓPIA FIEL) e Hou Hsiao-Hsien (com A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO), que trouxeram pouco de seus países e mais de sua mise-en-scène.

No caso de O PASSADO, o filme só não chega a ser perfeito porque em seus momentos finais, ao tentar lidar com a situação dramática envolvendo a filha mais velha de Marie e o caso da mulher suicida, perde-se um pouco da força que se manifestava de maneira poderosa até então. Talvez isso se deva ao fato de Samir não ser um personagem tão facilmente apreciado. O que não impede que a cena final seja de uma beleza admirável.

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