segunda-feira, abril 21, 2014

OS INCONFIDENTES























Quando noticiaram a morte de José Wilker (que ainda acho difícil de acreditar, não sei bem por quê), escolhi OS INCONFIDENTES (1972) como o filme que eu veria para homenageá-lo. Não é o melhor trabalho de Wilker, mas seria também uma oportunidade de ver mais um filme de Joaquim Pedro de Andrade, cineasta talentoso que se foi cedo demais. Acabou que, devido aos meus afazeres, acabei terminando de ver o filme justamente no Dia de Tiradentes.

OS INCONFIDENTES não é um filme tão fácil. Tem uma proposta de ser mesmo teatral, pegando trechos de poemas de Tomás Antônio Gonzaga (interpretado por Luiz Linhares), Alvarenga Peixoto (Paulo César Pereio), Cláudio Manuel da Costa (Fernando Porto) e trechos do "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles. Creio que um maior conhecimento do trabalho desses autores do Arcadismo e desse trabalho de Cecília poderia tornar a apreciação do filme mais agradável.

Ainda assim, mesmo com esse distanciamento ou essa admiração que pode vir de diálogos artificiais, mas cheios de beleza, é possível gostar bastante de OS INCONFIDENTES, que, assim como MACUNAÍMA (1969), tem uma fotografia em cores lindíssima. O trabalho de restauração que foi feito foi tão bom que as cores ficaram bem vivas, o que é importante para destacar os figurinos coloridos de época que os personagens usam.

Trata-se de uma obra mais sobre a conspiração do que sobre Tiradentes. O personagem de José Wilker aparece relativamente pouco e acaba se mostrando um homem que pagou o preço dos demais, que foram mais espertos e sempre negaram ter uma participação mais decisiva na conspiração para livrar Minas Gerais do julgo dos portugueses, que estavam roubando todo o ouro de lá.

Ao contrário do que a ditadura queria, na época, o filme, em vez de ser mais uma obra que celebrava os heróis da pátria, foi feito com a intenção de mostrar como um país sofre com a falta de liberdade, uma liberdade que estava podada pelos militares. A fim de não ter o seu filme censurado, Joaquim Pedro de Andrade enxertou um pequeno trecho em preto e branco no final, mostrando como o Brasil daquela época era diferente, celebrando todos os anos o ato de coragem do maior mártir de nossa pátria. Além do mais, a canção "Aquarela do Brasil", de Ari Barroso, de vez em quando tocada, dava um ar de sarcasmo diante do que era mostrado.

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