quinta-feira, julho 25, 2013

SE... (If...)

 

A primeira vez que vi SE... (1968), de Lindsay Anderson, foi lá pela virada dos anos 1980 para os 1990, quando foi exibido pela primeira vez na Rede Globo junto a outros filmes de prestígio. Lembro de ter gostado do filme, mas não sabia as razões. A revisão não resolveu muito bem a situação e talvez tenha gostado mais naquela época em que as obras de vanguarda que via eram mais misteriosas à minha compreensão do que atualmente, quando vejo os filmes, na maioria das vezes, procurando um entendimento racional ou uma lógica através dos bastidores.

A primeira coisa que eu lembrei quando vi o bando de alunos subindo as escadas caoticamente no início do filme, muitos deles, novatos, foi justamente o início de um de meus filmes favoritos, SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Há, também, outra cena que remete ao filme de Peter Weir, mas ela acontece lá pelo final, quando os três rebeldes do grupo liderado pelo personagem de Malcolm McDowell, recebem pauladas nos glúteos por insubordinação.

Mas as semelhanças param por aí, pois SE... está muito mais distante do classicismo americano e do romantismo do filme de Weir. Há aqui uma conexão direta com o espírito rebelde da época. 1968 é um ano emblemático na história do mundo ocidental. No mesmo ano, saiu o "Álbum Branco" dos Beatles, com John Lennon cantando "Revolution 1". Foi também o ano das manifestações de Maio de 68 na França. Enfim, SE... não é apenas um filme que recebeu ecos daquele ano, mas que foi concebido nele.

O filme se passa em uma escola privada burguesa e enfatiza a ordem estabelecida que deve ser cumprida sem nenhum questionamento. SE... também mostra aqueles alunos sêniors que chegaram a uma posição de prestígio e usam seu poder de autoridade para humilhar ou mesmo agir de maneira amoral, como quando um deles convida um novato para ser seu servo, com intenções pedófilas.

SE... também se passa em um período em que a escola passou a ser questionada como o lugar adequado para a obtenção da educação e conhecimento. Não deixa de ser incrível que, mesmo depois de passado tanto tempo, ela tenha resistido, ainda que aos trancos e barrancos, principalmente depois do advento da internet, cada vez mais sugando o pouco que resta da capacidade de concentração dos estudantes. O caos em uma escola atual pode visto, por exemplo, em ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, de Laurent Cantent. Que é quase um inferno na Terra para um professor. E um filme que ganhou a Palma de Ouro curiosamente 40 anos após SE... ter ganhado.

Mas SE... não procura trazer um registro realista ou com tons documentais como o filme francês. Alguns momentos parecem sonhos, como aquele em que o personagem de McDowell e o amigo saem da escola, roubam uma moto em uma loja e conhecem uma garçonete, que apareceria como uma guerrilheira no capítulo final do filme. É, definitivamente, uma ode à rebeldia, mas um tipo de rebeldia que não propõe nada além de destruir a instituição vigente. Praticamente um gesto de revanche.

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