quarta-feira, julho 29, 2009

CHE - A GUERRILHA (Che: Part Two / Che: Guerrilla)



Começou ontem a 19ª edição do Cine Ceará que, nesta fase ibero-americana, teve como sessão de abertura o ainda inédito no circuito comercial CHE - A GUERRILHA (2008), de Steven Soderbergh. O filme abre uma mostra destinada ao lendário guerrilheiro argentino que ajudou na construção de Cuba e participou de lutas armadas no Congo, na Venezuela e veio a morrer numa campanha fracassada na Bolívia. O segundo filme da saga de Soderbergh mostra justamente os mais de 300 dias em que Che passou nas selvas bolivianas enfrentando um exército bem mais preparado para suas técnicas de combate e persuasão. O filme passou ainda com legendas eletrônicas. Dentro do circuito de arte, com poucas cópias, pode ser que o filme tenha algum sucesso, já que é um verdadeiro suicídio comercial. Se no primeiro filme, Soderbergh já trabalhava num ritmo bem atípico para uma produção americana, mesmo as independentes, o segundo é ainda mais arrastado e com pouquíssimas cenas de ação.

Soderbergh não é nem vair ser nenhum Andrei Tarkovski ou um Robert Bresson, mas vendo algumas de suas obras é possível imaginar que ele é admirador desses cineastas pouco ortodoxos. Inclusive, ele fez um bom remake de uma obra-prima do cineasta russo (SOLARIS, 2002) e nos filmes de Che ele tem dado preferência a um registro que privilegia mais os "tempos mortos" do que as cenas de ação e violência. O modo como ele posiciona a câmera também é bem curioso. Se no primeiro filme, mal vemos os inimigos dos guerrilheiros, no segundo já vemos os tiroteios pelo ponto de vista do exército boliviano, com uma "pequena ajuda" dos americanos. Talvez essa mudança de posicionamento seja uma forma de o cineasta nos colocar no papel de cúmplices da morte de Che.

Ernesto 'Che' Guevara (em grande caracterização de Benicio Del Toro) aparece no filme sendo chamado por outro nome, para dificultar o seu reconhecimento. Ele já havia se tornado uma lenda e era procurado por todos os países latino-americanos, todos vivendo numa ditadura militar patrocinada pelos americanos com a finalidade de barrar o comunismo. E não deixa de ser triste ver o fracasso do guerrilheiro em sua última missão. Diferente da bem sucedida estratégia de tomada de poder em Cuba, tudo deu errado na Bolívia. Eles não conseguiram avançar e enfrentaram oposição dos próprios bolivianos, que não viam com bons olhos estrangeiros em seu país. Pode-se inclusive atribuir o fato de o filme ser tão arrastado e modorrento com um cansaço, um saber que tudo estava se encaminhando para o fim.

E a organização do Cine Ceará mais uma vez se mostra simpatizante de Cuba. No ano passado, o festival abriu com A ILHA DA MORTE, de Wolney Oliveira, produção Brasil-Cuba falada em espanhol. Desta vez, o festival escancara essa simpatia com uma Mostra Che, que trará, a partir de hoje, diversos filmes, documentários e ficções, sobre o guerrilheiro que se tornou símbolo de resistência.

Agradecimentos especiais a Camila Vieira, que muito gentilmente me conseguiu um convite para a noite de abertura.

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