terça-feira, maio 26, 2009

O DIA DA DESFORRA (La Resa dei Conti / The Big Gundown)



Graças ao estímulo do blog coletivo O Dia da Fúria, que no mês de maio está sendo dedicado ao cineasta Sergio Sollima, resolvi, para entrar em sintonia com a turma, furar a fila mais uma vez e ver o tão elogiado spaghetti western O DIA DA DESFORRA (1966). E acabo matando dois coelhos com uma só cajadada, pois também estou começando a ver um dos filmes que guardam relação com BASTARDOS INGLÓRIOS, de Quentin Tarantino, que contém em sua trilha sonora dois temas retirados do clássico de Sollima: "After the Verdict" e "La Resa", ambos do grande Ennio Morricone, que faz em O DIA DA DESFORRA um de seus mais belos trabalhos, ainda que se assemelhe à excepcional trilha de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, de Sergio Leone. E é da obra-prima de Leone que sai também o protagonista, vivido por Lee Van Cleef. Ele interpreta Jonathan Corbertt, um caçador de recompensas que resolve entrar para o mundo da política. Durante uma festa patrocinada por um magnata, ele fica sabendo que um mexicano, Cuchillo Sanchez (Tomas Milian), teria estuprado e matado uma garotinha. Ele logo se prontifica a ir à caça do tal bandido. Seria o seu último trabalho de pistoleiro antes de mudar de vida. No entanto, não é fácil caçar Cuchillo. Ele até consegue rastreá-lo facilmente, mas o jovem fora-da-lei é escorregadio e foge rapidinho. Assim, o filme inteiro é sobre as tentativas de Corbertt em caçar o mexicano.

Sergio Sollima utiliza mais humor do que Leone em seu western de estreia. E ele fez tanto sucesso que dirigiu mais dois filmes do gênero logo em seguida: QUANDO OS BRUTOS SE DEFRONTAM (1967) e CORRE HOMEM CORRE (1968). A passagem de Sollima pelo spaghetti western é considerado o ponto alto de sua carreira. Do cineasta, eu só havia visto o estiloso policial CIDADE VIOLENTA (1970), com Charles Bronson. Sollima também coloca elementos bem estranhos em seu filme, como, por exemplo, uma mulher que é uma espécie de colecionadora de homens. Ela transa com eles, transforma-os em seus escravos e gosta de vê-los sendo açoitados. Parece uma personagem saída da obra do Marquês de Sade. Ela seduz o fugitivo mexicano e tenta seduzir também o pistoleiro americano.

Interessante que mesmo antes de sabermos da inocência do mexicano, já criamos por ele uma simpatia. Ele é tão inteligente e divertido que logo conquista o espectador. Bem mais do que o sisudo personagem de Van Cleef. O clímax do filme, que mostra o tiroteio final entre o verdadeiro responsável pela morte da garotinha e os dois protagonistas, se assemelha um pouco ao clímax de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, dando também mais ênfase ao suspense do que propriamente ao tiroteio. Aliás, Cuchillo prefere usar uma faca em vez de um revólver. Há quem diga que isso é bastante representativo da auto-afirmação primitiva de um homem de um país pobre diante da modernidade bélica do homem branco. Sem falar que Cuchillo aparece o filme todo sujo e cheio de lama. Se nos westerns italianos, os americanos eram mostrados sujos, os mexicanos tinham que ser mais sujos ainda. :) No mais, Sollima também capricha nos planos gerais do deserto espanhol, captados na bela fotografia em scope e auxiliados frequentemente pelo belo tema musical de Morriccone que abre e encerra o filme. A cópia que consegui de O DIA DA DESFORRA parece ser uma das mais completas, apresentando momentos que foram cortados quando do lançamento do filme nos Estados Unidos. As cenas cortadas aparecem com áudio em italiano.

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