quinta-feira, maio 28, 2009

CHE - O ARGENTINO (Che: Part One / Che, El Argentino)



Uma das coisas mais dignas de admiração em CHE - O ARGENTINO (2008), primeira parte do projeto mais ambicioso de Steven Soderbergh, sobre o mais famoso líder guerrilheiro do mundo, é sua coragem em não fazer concessões. E que bom que atualmente o cinema americano tem feito obras que tentam ser mais autênticas. Se no passado a regra era fazer filmes sobre a história de outros países falados apenas em inglês, hoje já temos obras ousadas, como os dois últimos filmes de Mel Gibson (A PAIXÃO DE CRISTO, APOCALYPTO) e CARTAS DE IWO JIMA, de Clint Eastwood, que, através da língua e de atores estrangeiros, procuram deixar o projeto mais crível. Até mesmo uma produção que segue a tradição de usar a língua inglesa, como OPERAÇÃO VALQUÍRIA, teve o cuidado de mostrar, no início do filme, a voz do protagonista falando em alemão e se transformando em inglês aos poucos. E esse não é o único mérito de CHE, já que Soderbergh também não abre mão de fazer uma obra menos comercial, sem preocupação de agradar grandes audiências, com sua longa duração, seus "tempos mortos", sua tentativa de fazer uma obra mais próxima do cinema europeu do que do cinema americano.

A escolha de um time de atores latinos também foi acertada. Especialmente o porto-riquenho Benicio Del Toro, que incorpora Ernesto Che Guevara com força. Dá até pra esquecer a cara de pateta que ele fez quando uma entrevistadora foi questionar os atos de Che. Ele é o homem perfeito para o papel. Outros atores de diferentes países da América Latina interpretam personagens importantes para a história da Revolução Cubana: o mexicano Demián Bichir, como Fidel Castro; Rodrigo Santoro, no papel de Raúl Castro; e a bela colombiana Catalina Sandino Moreno, como Aleida March, a moça que parece ter sido amante de Che. Ou teria sido apenas um amor platônico? (Ainda não vi a parte dois, por isso a pergunta.)

Talvez o filme fruste um pouco as expectativas para quem espera um super-thriller sobre a queda da ditadura de Fulgencio Batista e o início do governo de Fidel. Também dá pra reclamar da falta de mais sangue - Soderbergh evita mostrar, sempre que possível, os inimigos de Che e Fidel durante os tiroteios nas matas nas regiões ao redor de Havana. Mas, em compensação, ao vermos o filme do ponto de vista de Che, podemos entender um pouco mais como foi o processo da revolução, que estrategicamente começou em outras cidades, até finalmente chegar a Havana.

Algumas cenas em preto e branco, com Che na ONU, nos Estados Unidos, são bem interessantes e mostram trechos do corajoso discurso que ele fez na casa do inimigo. É um dos poucos momentos onde se fala inglês no filme. Fidel, que é mostrado como um homem amado pelos companheiros, é visto muito pouco, talvez até menos que seu irmão Raúl. A obra de Soderbergh enfatiza o problema de asma de Che, seus conhecimentos médicos, a valorização da educação (saber ler e escrever era essencial para fazer parte da guerrilha), sua coragem. Havia também, por parte dele e de Fidel, os dois grandes cabeças da revolução, a certeza de que queriam total independência. Não queriam que Cuba se tornasse uma espécie de colônia da União Soviética. É certamente um filme que agrada, principalmente, aos interessados na história da América Latina. Essa primeira parte de CHE foi baseada no diário do guerrilheiro sobre a revolução cubana. Eventualmente, o vemos escrevendo o tal diário, enquanto descansa e se prepara para novas batalhas.

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