quarta-feira, janeiro 31, 2007
MEDO E OBSESSÃO (Land of Plenty)
Alguém pode me dizer o que aconteceu com o Wim Wenders? Eu me refiro àquele Wim Wenders que nos anos 80 realizou obras-primas como PARIS, TEXAS (1984) e ASAS DO DESEJO (1987). Depois de ATÉ O FIM DO MUNDO (1991), que já sinalizava o início da decadência, Wenders fez filmes cada vez menos inspirados. Talvez a exceção, dos anos 90 pra cá, seja CÉU DE LISBOA (1994), filme dos mais agradáveis que consegue passar todo o encanto e melancolia da capital portuguesa, além de fazer várias referências à obra poética de Fernando Pessoa. No cinema, o último filme que eu vi dele foi o extremamente chato HOTEL DE UM MILHÃO DE DÓLARES (2000), estrelado pelo Mel Gibson e que contava com uma trilha sonora do U2. Aliás, uma das melhores coisas do cinema de Wenders é essa associação com a música pop.
Tanto que nesse MEDO E OBSESSÃO (2004), os melhores momentos são justamente aqueles em que o filme se parece com um videoclipe, mostrando cenas sem diálogo e com canções de artistas como Travis, David Bowie e Leonard Cohen. MEDO E OBSESSÃO é uma produção de baixo orçamento, filmada com câmera digital, que explora o atual momento de paranóia reinante nos Estados Unidos pós-11 de setembro. Michelle Williams (de DAWSON'S CREEK) é uma jovem que volta à sua cidade natal, Los Angeles, depois de um tempo morando na Àfrica e no Oriente Médio. Seu único parente na cidade é o seu tio (John Diehl), um sujeito paranóico que procura por conta própria focos de possíveis atentados terroristas. Obviamente, ele dá mais atenção às pessoas de pele escura e que usam turbante. Numa noite dessas, ele testemunha o assassinato de um árabe e tenta associar esse assassinato com a ação de grupos terroristas.
Pela pequena entrevista de Wenders constante no DVD dá pra notar o seu tom crítico em relação aos americanos, especialmente os que moram longe dos grandes centros urbanos, como Los Angeles e Nova York. Para ele, essas pessoas que vivem no país mais poderoso do mundo acabam sendo mais estúpidas e ingênuas que qualquer outra pessoa vivendo em qualquer outro país do mundo. Para acentuar um pouco isso, em seu filme, Wenders faz um contraste entre uma jovem que tem a cabeça aberta pela sua vivência em outros países e um sujeito alienado e excessivamente patriótico que sequer sabia que no Oriente Médio várias pessoas comemoraram a queda das Torres Gêmeas.
Talvez a sensação de desleixo, ou no mínimo de certo despretensão que é sentido ao longo do filme talvez se deva ao fato de que MEDO E OBSESSÃO existiu somente por causa do adiamento na produção de ESTRELA SOLITÁRIA (2005). Como o diretor estava de bobeira nos Estados Unidos, ele fez o tratamento do roteiro de MEDO E OBSESSÃO em apenas três dias, deu os retoques nas semanas seguintes e rodou o filme inteiro em pouco mais de duas semanas.
MEDO E OBSESSÃO abriu a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2004 com o título TERRA DA FARTURA.
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