terça-feira, janeiro 23, 2007
MADE IN U.S.A.
"Será nossa vida apenas um amontoado de nada?"
(Anna Karina recitando uma poesia em MADE IN U.S.A.)
Seria MADE IN U.S.A. (1966) o À BEIRA DO ABISMO do Godard? Porque nada faz sentido pra mim nesse filme. Pelo menos no que se refere à estória. Sei que os filmes de Jean-Luc Godard nunca privilegiaram a narrativa, mas em todos os trabalhos anteriores a esse - até mesmo no confuso ALPHAVILLE (1965) - o cineasta parecia se importar um pouco com a trama. Como eu estou acompanhando os filmes de Godard em ordem cronológica e ainda não tenho idéia do que ele fará depois desse filme, posso ao menos dizer que, até então, MADE IN U.S.A. era o filme mais "louco" dele.
Achava que Jean-Pierre Léau dividiria o filme com Anna Karina, mas ele acaba aparecendo muito pouco; o filme é todo da musa de Godard, que fica deslumbrante em fotografia technicolor, valorizando sempre o vermelho. Talvez em homenagem ao comunismo, já que o filme é uma espécie de tributo à luta armada dos comunistas, que viviam um grande momento em 1966. Ou pelo menos uma reflexão sobre. Ainda assim, apesar dessa simpatia com a esquerda, há um interessante monólogo perto do final em que um sujeito diz coisas como: "comparada à direita, a esquerda é repleta de coisas completamente datadas" e "direita e esquerda são a mesma coisa". Quer dizer, apesar da simpatia, Godard não era um cego apaixonado pelo movimento socialista. Lembrei-me, inclusive, de um discurso recente do nosso presidente Lula, quando ele falou que preferia seguir o caminho do meio, que não acreditava mais em direita ou esquerda.
MADE IN U.S.A. começa com uma dedicatória a Samuel (Fuller) e Nick (Nicholas Ray), dois dos cineastas mais queridos de Godard. Mas há também, ao longo do filme, referências a outros diretores. Há um inspetor Aldrich, uma estrada Preminger, uma japonesa com o sobrenome Mizogushi e o nome do personagem de Léaud se chamada Donald Siegel. Essas referências são divertidas para os cinéfilos, mas a melhor coisa do filme é mesmo a presença de Marianne Faithfull cantando "As tears go by", dos Rolling Stones. A canção já é maravilhosa na voz de Mick Jagger e ficou graciosa na voz suave de Marianne. Na época, Marianne era linda - e pensar que os Stones se aproveitaram.
Voltando ao filme de Godard e às referências, uma das mais explícitas é a do personagem chamado David Goodis, nome de um dos mestres do romance noir e autor do livro "Atire no Pianista", que se transformou no mais godardiano filme de Truffaut.
A complicada trama introduz Anna Karina no papel de Paula Nelson (mesmo nome de uma personagem de GAROTAS DO ABC, de Carlos Reichenbach), uma mulher que vai a Atlantic City investigar o assassinato do namorado. No caminho, ela encontra uma série de gângsters e vai deixando alguns cadáveres pelo caminho. MADE IN U.S.A. foi o último longa de Godard em que Anna Karina trabalhou. Ela trabalharia novamente com ele apenas no segmento do filme em episódios O AMOR ATRAVÉS DOS SÉCULOS (1967).
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