domingo, janeiro 21, 2007

BABEL



Alguns filmes despertam sentimentos tão contraditórios em quem os assiste que o resultado são opiniões diametralmente opostas. No caso de BABEL (2006) tenho lido tanto críticas que colocam o filme na mais baixa categoria quanto críticas que elogiam a sua força dramática, sua catarse. Isso acaba nos forçando a tomar partido em uma das frentes: na turma que odeia Alejandro González Iñárritu - e principalmente BABEL, considerado por muitos o novo CRASH -, ou na que admira o trabalho do cineasta? Como eu me enquadrava no grupo dos que gostaram tanto de AMORES BRUTOS (2000) quanto de 21 GRAMAS (2003), achava que a possibilidade de eu não gostar de BABEL seria muito pequena. Confesso que acabei me decepcionando um pouco com o filme e não sentindo nem metade da angústia que os filmes anteriores me provocaram. Sobrou a indiferença. E pela primeira vez nos filmes do diretor, eu me incomodei com a burrice dos personagens. Principalmente do pouco explorado personagem de Gael Garcia Bernal. Por outro lado, pode-se dizer que a burrice - ou a inocência, pra ser menos agressivo - não deixa de ser uma característica humana e independe de classe social ou mesmo de capacidade intelectual.

Em BABEL, o efeito dominó se inicia a partir do tiro de um rifle. Dois meninos marroquinos testam inocentemente a arma que o pai comprou pra eles matarem os chacais que comiam as cabras. Um dos meninos, duvidando do alcance da arma, resolve testar num ônibus de turistas que passa pela estrada abaixo da ribanceira onde eles estão. Resultado: uma turista americana (Cate Blanchett) é baleada e seu marido (Brad Pitt) fica desesperado, tentando com dificuldade conseguir ajuda médica naquele lugar. Apesar de não ter uma força dramática tão envolvente quanto deveria, a estória que se passa em Marrocos é a mais bem resolvida de todas. Ao menos, se levarmos em consideração o filme como um todo, e não por partes separadas. Visto em separado, talvez o segmento no Japão seja o melhor. Mas é o que mais parece estar forçadamente costurado ao enredo. Não é porque um japonês deu de presente uma arma para um marroquino que ele é culpado pelo acontecido. Se for assim, porque não ir atrás também dos fabricantes das armas? Visto em separado, o segmento no Japão é o que mais traz interessantes experimentações de som - a protagonista é uma menina surda - e onde a câmera se aquieta mais um pouco, deixando espaço para respirar, para aprofundar um pouco o drama da garota carente e valorizar a geografia de Tóquio.

Falando em geografia, não deixa de ser interessante o fato de Iñarritu ter abordado um tema tão incômodo para os americanos, que é o da travessia dos mexicanos no deserto para entrarem ilegalmente nos Estados Unidos. Inclusive, na última segunda-feira, quando o diretor subiu ao palco para receber das mãos de Arnold Schwarzenegger o Globo de Ouro de melhor filme - drama, ele fez uma brincadeira dizendo que estava com a documentação em dia. Pena que Iñarritu filmou o seu próprio povo de maneira estereotipada, preferindo não mostrar nada das belezas naturais do México. Terá sido para tornar mais evidente a distância que existe entre o México (e o Marrocos) e os países do primeiro mundo - representados pelos Estados Unidos e pelo Japão?

No que se refere à narrativa, e comparando com os seus dois trabalhos anteriores - também em parceria com Guillermo Arriaga - percebe-se facilmente que BABEL tem uma estrutura bem mais simples. Ainda há um pouco da não-linearidade, mas de maneira bem menos radical. BABEL é o mais convencional dos filmes da dupla Iñarritu-Arriaga. Aliás, de quem será a culpa pela opção pela montagem não-linear, do diretor ou do roteirista? Lendo uma entrevista de Iñarritu, ele conta que quando era criança, seu pai costumava contar para ele umas estórias de maneira bem pouco usual. Ele parava a estória no meio, em seguida ia para o final, depois voltava para o começo... Iñarritu diz também que tinha uma tia que gostava de contar estórias de forma linear e que ele achava isso muito chato. O diretor culpa o pai e o déficit de atenção que ele tem como as causas de ele pensar de forma "diversa". Talvez Iñarritu seja um dos mais importantes representantes desses tempos em que vivemos, onde a dificuldade de concentração é comum devido à avalanche de informações fragmentadas e de fácil acesso.

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