domingo, março 28, 2021

FRANCISCO SANTIAGO DOS SANTOS (1961-2021)



Meu melhor amigo se foi. E agora me encontro aqui, tentando encontrar palavras para expressar a falta imensa que sinto e que ainda vou sentir dele. Ele era o irmão que nunca tive, conselheiro amoroso, agregador de pessoas especiais, parceiro de sessões de cinema, de altos papos sobre arte (música, livros, filmes), sobre a vida, sobre tudo. Alguém que viveu a vida intensamente. Eu, que sempre sofri com uma timidez paralisante - na vida amorosa, principalmente -, tinha nele uma espécie de versão da pessoa que gostaria de ser.

Era 1991 quando entrei na CABEC e odiava aquele emprego novo, depois de ter passado dois ótimos anos como estagiário no Banco do Nordeste. Colocaram-me em um trabalho bem chato para fazer, e ele saía da sala ao lado, no setor de investimentos, para conversar comigo. Aos poucos foi surgindo uma amizade boa, que durou todo esse tempo, para além da empresa.



Certo dia, saindo do expediente, passamos em frente a uma livraria, observei nas prateleiras que havia chegado a biografia do Woody Allen, falei que estava interessado, mas na época não tinha cartão de crédito. Ele se ofereceu para comprar no cartão dele. Fiquei comovido com o ato de generosidade e aceitei. Naqueles meus 18 anos de idade, eu não tinha muitos exemplos de generosidade que partissem de quem não fosse da minha família.

Hoje de manhã, ao mostrar uma foto para minha amiga Aleksandra, que agora mora nos Estados Unidos - na foto estamos ele, a Ariza (esposa dele), a Alê e eu -, ela disse: "ele com certeza era the light of the party." E é bem isso. Muito da alegria de nossas reuniões, fossem em shows, viagens, festas, barzinhos, praias, cinemas, cafés etc., se devia a seu espírito festivo, a seu sorriso contagiante. Um dos advérbios comumente usados por ele era “exponencialmente”. Ele usava para se referir à vida, ao modo como ela deveria ser vivida.



Os últimos anos não foram muito fáceis para meu amigo. Na verdade não estavam sendo fáceis já há alguns anos, seja pela ascensão da extrema direita, seja por essa pandemia que agora nos acometeu a todos e tem nos tirado tantas pessoas queridas. Ele, como uma pessoa de pensamento progressista, sofria muito com tudo isso. Chegou a sair diversas vezes das redes sociais para tentar se estabilizar psicologicamente. Não faz muito tempo, em alguns de seus momentos difíceis, eu o acompanhava em caminhadas pela Beira-Mar. Ele me agradecia pelo apoio, mas eu tinha muito mais a agradecê-lo. Creio que todos que estiveram ao redor do Santiago se sentiam e se sentem pessoas de muita sorte.

Lembro que em uma de nossas viagens, indo passar o réveillon em Guaramiranga com um grupo de amigos, na hora da virada do ano (não lembro que ano foi ao certo), eu recebi um abraço tão amigo e caloroso dele que me desarmou. Essa facilidade que ele tinha de expressar o carinho pelas pessoas também era algo que me servia de exemplo.

Agora, em tempos de distanciamento social, pensar nesse abraço me deixa ainda mais sem chão. É difícil saber que quando passar essa pandemia não iremos mais nos encontrar neste plano astral, mas é uma felicidade ter tido a honra de compartilhar tantos momentos bons com uma pessoa tão extraordinária.



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