terça-feira, março 16, 2021

DUAS MINISSÉRIES E DOIS EPISÓDIOS ESPECIAIS DE UMA SÉRIE



Tenho visto pouca série/minissérie nestes dias. Mas é bom quando consigo ver uma ou outra e vejo o quanto elas são eficientes em captar minha atenção, mesmo em tempos tão nebulosos. Como não estou com muita disposição física e mental para escrever com mais profundidade sobre estes trabalhos televisivos, que merecem sim nossa atenção, vamos de textos menores, textos feitos no calor do momento, na verdade.

THE UNDOING

Às vezes THE UNDOING (2020) parece uma versão estendida e muito sem-vergonha de thrillers estilo Supercine, mas a verdade é que há uma baita diferença quando temos alguém tão bom no uso dos diálogos na televisão quanto David E. Kelley. Assim como BIG LITTLE LIES (2017,2019), a trama foca em um assassinato que abala pessoas ricas; no caso, o casal vivido por Nicole Kidman e Hugh Grant, além do filho do casal (Noah Jupe). O que mais me impressionou nesta minissérie foi o desempenho de Grant. Já sou fã do ator desde a virada dos anos 80/90, mas tenho gostado muito de suas escolhas ousadas para fugir do estereótipo de galã cínico/tímido de comédias românticas. A minissérie A VERY ENGLISH SCANDAL já apontava isso e  THE UNDOING é uma espécie de continuação desse momento rico da carreira do ator. Quanto a Nicole Kidman, ela está muito à vontade, pois já vem de outro trabalho do mesmo criador e já faz tempo que provou ser uma ótima atriz. Sua ambiguidade faz parte da força da minissérie. Foi interessante o efeito que esta obra provocou em mim em diversos momentos. Foi como se eu estivesse um pouco no lugar do acusado do crime. Gosto de como a tensão nas cenas de tribunal são bem desenvolvidas, menos pelo script e mais pela atmosfera. Todos os episódios foram dirigidos por Susanne Bier.

A TEACHER

Uma minissérie que tem os seus altos e baixos, mas quando atinge altos provoca emoções fortes. Gosto muito do último episódio de A TEACHER (2020), por mais que ele tenha uma carga de didatismo. Mas diria que a minissérie se sai muito bem ao lidar com o drama dos personagens: uma professora e um aluno de 17 anos que têm um caso durante o terceiro ano do ensino médio e passam a arcar pelas consequências do ato. A princípio, a série até lida com a alegria dos atos inconsequentes, mas depois a coisa vai ficando muito pesada. Além do mais, nos EUA, professora que transa com aluno menor de idade vai mesmo pra cadeia. Boa interpretação de Kate Mara. O jovem Nick Robinson também é muito bom. Solidarizei-me com a paralisia dos personagens em determinado momento do último episódio. A criadora da minissérie é Hannah Fidell, que já havia feito um longa-metragem contando a mesma história em 2013, com um outro elenco.

EUPHORIA - TROUBLE DON'T LAST ALWAYS

No meio da pandemia, com todos os cuidados especiais de distanciamento e testes de Covid, Sam Levinson convidou Zendaya e Colman Domingo para este "especial de Natal" de EUPHORIA. Um presente para os fãs da série, que ficaram sem uma segunda temporada neste ano que passou. E como se trata de uma série sobre depressão, vício em drogas, autodestruição e dificuldades nos relacionamentos, não dá para esperar nada muito leve de um episódio novo. O que temos em TROUBLE DON'T LAST ALWAYS (2020) é um trabalho bem simples de conversa em um café. Zendaya ainda está usando drogas, não tem forças para largar; Domingo é o sujeito que está à disposição para ajudá-la, sendo ele também um dependente químico afastado há alguns anos das drogas. Às vezes parece uma reunião do N.A., mas é muito importante o serviço que uma série como essa oferece para os jovens, pois não se trata apenas de dizer que drogas fazem mal, destroem a vida etc. É tudo mais profundo, como fazer uma visita ao inferno pessoal, se sentir ainda mais fraco, mas ao menos se conscientizar de algo. O olhar desesperançado de Zendaya deve me assombrar pela noite adentro. Que menina talentosa! 

EUPHORIA - FUCK ANYONE WHO'S NOT A SEA BLOB

Depois do episódio estrelado por Rue (Zendaya), chegou a vez do ponto de vista de Jules (Hunter Schafer), a garota trans que mexeu com a cabeça de Rue e que também se apaixonou por ela. O episódio especial , FUCK ANYONE WHO'S NOT A SEA BLOB (2021), é basicamente uma conversa da personagem com sua psicanalista, e envolve assuntos bem profundos de sua feminilidade, das dúvidas sobre o seguimento do tratamento hormonal, dos problemas com a mãe, da saudade de Rue, de um pesadelo. Mas há também cenas que me surpreenderam, fora do ambiente do consultório. Várias até. Bem mais que o episódio da Rue. E funciona para que nos encantemos ainda mais com Jules. Esses dois episódios especiais ajudam a enfatizar o quão fundo a série de Sam Levinson pretende ir.

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