sexta-feira, maio 27, 2016

PAIS & FILHAS (Fathers & Daughters)



Faz falta nos dias de hoje um bom diretor de melodramas, desses que não tem vergonha de meter o pé na jaca e fazer filmes com intenção de fazer a plateia chorar, como era comum na velha Hollywood ou mesmo no cinema italiano. Mas vez ou outra filmes desse tipo aparecem e Gabriele Muccino é um dos cineastas contemporâneos que mais perseguem isso.

Basta lembrar de seu filme-vitrine para o mundo, o ótimo O ÚLTIMO BEIJO (2001), e de seus dois dramas estrelados por Will Smith, À PROCURA DA FELICIDADE (2006) e SETE VIDAS (2008). Não são unanimidades entre a crítica, mas fizeram a alegria do público apreciador do gênero. Depois de voltar para a Itália para realizar BEIJE-ME OUTRA VEZ (2010), que não teve uma repercussão muito boa, e de um outro filme hollywoodiano pouco interessante, ainda que simpático e leve, UM BOM PARTIDO (2012), Muccino está de volta com mais força em PAIS & FILHAS (2015), em que ele trabalha novamente a questão do afeto entre familiares, bem como a dificuldade dos relacionamentos.

PAIS & FILHAS é bem sucedido em seus dois arcos dramáticos, com uma diferença de mais de vinte anos entre um e outro. Há também uma boa montagem que vai revelando aos poucos o drama do personagem de Russell Crowe, um escritor vencedor do prêmio Pulitzer que agora está às voltas com sérios problemas neurológicos. Ele sente espasmos no braço que depois se transformam em convulsões. Pra completar, ele não escreve um bom livro há um bom tempo, está passando por dificuldades financeiras, e precisa cuidar da filha pequena sozinho, depois que a esposa morre em um acidente automobilístico.

Pois é. Não é fácil. Com a alternância cronológica, vemos que também não é fácil para a garotinha agora crescida, vivida por Amanda Seyfried. Ela é uma estudante de psicologia que gosta de lidar com crianças com problemas de conexão com as pessoas e com o mundo. Ela mesma tem dificuldade em estabelecer uma relação mais aprofundada com alguma figura masculina. Por isso, prefere relações de uma noite apenas. Isso muda quando ela conhece o rapaz vivido por Aaron Paul, em um de seus melhores papéis depois de BREAKING BAD.

Uma das belezas do filme está também na fotografia de Shane Hurlbut, que nem tem um currículo assim tão respeitado, mas que, sob o comando de Muccino, faz um belo trabalho de composição visual, especialmente no modo como os corpos são colocados, sejam na horizontal, seja quando estão separados, como numa das primeiras cenas, com o personagem de Crowe e sua filha chorando no sofá, depois de voltarem do funeral da esposa/mãe.

Russel Crowe, aliás, dá um show de interpretação, especialmente quando está tendo suas crises. Dói ver aquilo tudo, assim como dói ver a luta dele pela filha, mesmo diante de tantas dificuldades. E o que dizer de uma cena linda de Amanda Seyfried com uma de suas pacientes (Quvenzhané Wallis) em um parque? A menina não fala com ninguém e aquele é o primeiro momento de resposta dela. Bem emocionante. Há quem vá dizer que é um filme cafona e exagerado em sua construção dramática, mas nem todo filme precisa ser sofisticado, classudo e sutil, não é mesmo?

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