domingo, maio 01, 2016

LUZES DA RIBALTA (Limelight)



Cerca de vinte anos atrás eu vi LUZES DA RIBALTA (1952) pela primeira vez na televisão. Foi num especial do Charles Chaplin que a Globo estava exibindo – um filme a cada domingo. Lembro que eu chorei como se tivesse perdido um parente ou amigo querido, ou algo do tipo, especialmente no final, embora não lembrasse mais muito bem desse final. Só sei que o impacto desta obra tardia de Chaplin em mim foi grande naquela época. Resolvi revê-lo finalmente este ano, no dia de aniversário de nascimento do grande diretor.

Trata-se de uma obra assumidamente melodramática. Os olhos tristes de Carlitos nas comédias mudas já se percebiam fortemente em obras anteriores e por isso que para muitos, era mais fácil chorar do que rir em algumas de suas comédias. Quantas vezes eu não chorei em O GAROTO (1921), um dos filmes que eu mais vi na vida e que ainda considero a sua obra-prima mais bem-acabada?

E há pontos em comum entre os dois filmes, por mais distantes que possam parecer. Em ambos temos a figura de um homem que salva a vida de alguém. Aqui não é mais um bebê indefeso, mas uma mulher que havia tentado o suicídio. Chaplin interpreta Calvero, um comediante decadente, que procura viver das glórias do passado, mas que não consegue mais obter sucesso de público. Por isso se acostumou a afogar as mágoas na bebida. Em um de seus retornos para casa, percebe o cheiro de gás que vem de um dos apartamentos. Ele precisa arrombar a porta para salvar aquela jovem mulher, que acaba por levar a sua casa, por falta de outro lugar.

A mulher se chama Thereza (Claire Bloom, linda) e tem um passado de bailarina. Acontece que ela percebeu que não consegue se levantar, não consegue mais andar. Ainda que os médicos digam que isso é um mal de natureza psicológica e não física, ainda assim, demora para ela conseguir dar os primeiros passos. E tudo que ela obtém é graças a Calvero, com seu carinho e suas palavras encorajadoras. Ele encontra nela também uma solução para o seu problema com a bebida.

Os sentimentos de gratidão se misturam com os de amor romântico na cabeça de Thereza, que deseja casar com Calvero. Ele, por sua vez, acredita que ela está confusa, que ele é muito velho para ela, que não pode lhe oferecer o tanto de amor que ela precisa, em sua idade. Até por que há um terceiro elemento na equação: o sujeito por quem ela era apaixonada antes do incidente do suicídio, agora um músico de sucesso. A trama evolui a partir do progresso físico e profissional de ambos. Ou regresso, dependendo do caso.

Como se já não bastasse toda essa situação, que por si só já constitui elemento suficiente para construir uma obra cheia de melancolia, especialmente quando vemos a decadência de Calvero no palco, o filme se encerra de maneira grandiosa, com uma espécie de espetáculo de despedida orquestrado para o famoso comediante. E com direito a presença em cena de Buster Keaton, o grande rival de Chaplin na era muda, com sua tradicional cara de estátua.

LUZES DA RIBALTA é o trabalho mais pessoal e mais revelador de Chaplin, que naquela época estava passando por uma crise profissional, sendo acusado de comunista e amargando fracassos de bilheteria. É também considerado o seu filme-testamento, pelo caráter de despedida, embora o cineasta tenha ainda realizado outros dois filmes na Inglaterra. Não é exatamente uma unanimidade na carreira do grande mestre, talvez por carregar um bocado no sentimentalismo, mas quem ama o filme, ama com todo o coração. E é muito fácil entender o porquê.

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