sábado, janeiro 30, 2010

INVICTUS























Já fazia uns vinte anos que Clint Eastwood não me decepcionava. Até filmes que não são exatamente unanimidades, como COWBOYS DO ESPAÇO (2000) e DÍVIDA DE SANGUE (2003), me agradaram bastante. O último filme que eu não considero digno de seu status de grande diretor é ROOKIE - UM PROFISSIONAL DO PERIGO (1990). E eis que me pego incomodado com INVICTUS (2009), um filme cheio de problemas. Torna-se difícil até fazer uma defesa, com tantos diálogos constrangedores.

De positivo tem o fato de o filme apresentar um retrato da História que seria desconhecido para muitos se não fosse o poder que o cinema tem de atingir um grande público. Assim, podemos ter uma ideia de como vivia a sociedade sul-africana logo após a vitória de Nelson Mandela à presidência de seu país após 27 anos preso pelo regime do apartheid, a política de segregação racial e terrorismo que vigorava na África do Sul desde a década de 1940.

A parte política do filme me interessa, ainda que o tratamento dado por Eastwood passe longe da excelência de suas reflexões sobre a sociedade americana, em filmes como SOBRE MENINOS E LOBOS (2003) e A CONQUISTA DA HONRA (2006). Pena que o filme logo diga a que veio: um filme de esporte, subgênero um tanto difícil de agradar, mas basta lembrar de SOMOS MARSHALL, de McG, sobre futebol americano, para perceber que isso é possível. INVICTUS mostra o forte apoio de Mandela ao rugby, que culminou na vitória do tradicional time do país na Copa do Mundo de 1995.

Muito bonito ver Mandela, logo que assumiu a presidência, fazendo o possível para que houvesse harmonia entre brancos e negros. E sua política, ao que parece, funcionou. E mostrou para o mundo que a vingança nem sempre é o melhor caminho. Seria totalmente compreensível que uma pessoa que passou tantos anos na cadeia tivesse nutrido rancores contra os brancos. Mas o que vemos é um Mandela amável. Tão amável que fica difícil comprar o seu papel, pois em momento algum vemos um aspecto negativo do personagem. Morgan Freeman, grande ator que é, não consegue imprimir um personagem crível. A explicação para isso, para esse Mandela quase messiânico, talvez seja o aspecto cristão, que se mostra cada vez mais presente na obra de Eastwood.

Quanto a Matt Damon, ele é o capitão do time de rugby que recebe um apoio especial de Mandela e ganha motivação para tirar o seu time do buraco e incentivar os seus companheiros a lutarem bravamente até conseguirem o seu objetivo: ganhar. Damon se sujeita bem menos a situações constrangedoras no filme do que Freeman, até por ter um papel menor.

Outro detalhe que chama atenção daqueles que não estão acostumados com o selvagem esporte é explicitado pelo uso da câmera lenta e sons de respiração ofegante nos momentos em que os jogadores ficam amontoados uns nos outros a fim de pegar a bola. Nesses momentos, fiquei na dúvida se Eastwood ama mesmo o esporte, já que pode passar uma impressão oposta. Além do mais, a alegria gerada pela vitória me lembra a alegria de fim de Copa do Mundo quando o Brasil ganha: uma alegria vazia e bem passageira.

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