segunda-feira, setembro 01, 2003

PECKINPAH, O. RUSSEL E ALMODÓVAR



Uma boa pedida pra quem quer ver filmes pagando barato é locar na King Vídeo (ah se eles me pagassem por essa propaganda). Lá o acervo não é tão bom quanto o da Distrivideo, mas o preço é bem melhor. Vhs, 1 pila; Dvd, 2 pilas. Levei três fitas e um dvd por apenas 5 pilas. Aluguei três filmes que eu deveria ter visto há tempos. O comentário sobre o dvd de A MARCA DA PANTERA fica pra próxima vez. Seguem os comentários das hoje desprezadas fitinhas em vhs.

CRUZ DE FERRO (Cross of Iron)

Sam Peckinpah, o mestre da violência, comanda esse ótimo filme de guerra narrado do ponto de vista dos alemães. Diretor dos festejados MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA (1969), A MORTE NÃO MANDA RECADO (1970), SOB O DOMÍNIO DO MEDO (1971) e TRAGA-ME A CABEÇA DE ALFREDO GARCIA (1974), entre outros, Peckinpah é influência até hoje para os novos nomes do cinema de ação. Acho que o maior discípulo dele hoje é John Woo, que usa nos seus filmes a câmera lenta nas seqüências de tiros, assim como o sangue sendo cuspido na tela.

CRUZ DE FERRO (1977) traz James Coburn como o Sargento Steiner, um homem que abomina os chamados caçadores da cruz de ferro. A cruz de ferro é um brasão (é esse o nome?) que é o símbolo da bravura dos oficiais enviados para a guerra. Como se fosse uma medalha de honra ao mérito. Maximilliam Schell, como o Capitão Stransky, é um desses caçadores, que sobrevive graças à sua covardia, ao enviar apenas os seus subordinados para o combate. Ainda assim, é canalha o suficiente pra querer a tal cruz de ferro. Mas pra isso ele enfrenta a determinação de Steiner. A história acontece em 1941, com a Alemanha prestes a desistir da guerra, e perdendo as batalhas para os russos. Como um dos personagens dizem em certo momento do filme: o império alemão já não luta para vencer, mas para sobreviver. Era essa a situação dramática do momento. Em outra seqüência, Steiner se pergunta se um dia os outros países vão perdoar o que os alemães fizeram.

O filme tem muitas seqüências de lutas, excelentes diálogos, ótimo elenco e a direção poderosa de Peckinpah. Há um belo discurso anti-bélico, ao mesmo tempo em que é mostrada a obsessão dos homens pela guerra. A mulher de Steiner, em rápida aparição no filme, pergunta pra ele se o seu desejo de voltar para a guerra é por medo de descobrir o que ele é de verdade sem ela (a guerra). Até lembrei de uma entrevista de Susan Sontag sobre a vontade (ou necessidade?) do homem de fazer guerra, numa recente edição da revista Veja.

Filmão esse do Peckinpah.

A MÃO DO DESEJO (Spanking the Monkey)

Filme de 1994 de David O. Russell, diretor do ótimo TRÊS REIS (1999). E só não vou dizer que é melhor porque os filmes são de gêneros distintos. Ainda não sei se há autoralidade na obra de Russell, se há pontos em comum entre os dois filmes. A MÃO DO DESEJO é um filme que fala sobre a opressão da família sobre um rapaz. È um filme ousado. Trata do tema do incesto de maneira original. Não tenta utilizar do tema para colocar cenas de sexo como AMOR, ESTRANHO AMOR, do Khouri (filme que, aliás, eu gosto pra caramba). Russel mostra mais o inferno que é viver na pele do personagem de Jeremy Davies, que não consegue nem se masturbar em casa, porque o cachorro que ele tem de tomar conta não deixa. Resultado: ele acaba comendo a própria mãe. Hehehhe. Pior é que a mãe dele é mesmo bonita. Jeremy Davies já tinha feito um papel parecido em INDO ATÉ O FIM (1997), de Mark Pellington. Ele tem mesmo uma cara de gente perturbada. Ótimo filme.

A FLOR DO MEU SEGREDO (La Flor de Mi Secreto)

Em 1995, Pedro Almodóvar iniciou a sua fase mais brilhante: a fase atual. Depois de A FLOR DO MEU SEGREDO(1995), o cara cometeu as três obras-primas de sua carreira: CARNE TRÊMULA(1997), TUDO SOBRE MINHA MÃE(1999) e FALE COM ELA(2002). Este último é o meu favorito dele. E um dos melhores filmes que eu já vi na vida.

A FLOR DO MEU SEGREDO se não tem o brilhantismo dos três filmes antecipa várias coisas. Há até uma cena de ballet que lembra na hora o comecinho de FALE COM ELA. Almodóvar começou a fazer menos comédias e ser mais "sério" com esse filme. A partir desse filme ele se tornou um mestre em melodramas sofisticados.

No filme, Marisa Paredes é uma escritora de livros sentimentais que sofre com o abandono e o desprezo do marido. Chega a incomodar o amor excessivo que ela tem pelo cara, que não lhe dá a mínima. Mas por mais que em certos momentos eu deseje que ela mande ele ir pra puta que o pariu, não dá pra ficar indiferente à cena em que ela vai pro bar e na televisão pássa uma mulher cantando uma dessas canções latinas meio cafonas sobre abandono e dor de cotovelo. E ela chora pra caramba. Por falar em canções, o filme termina com a voz de Caetano Veloso. Taí mais um ponto em comum deste filme com FALE COM ELA. Filme indispensável pra quem curte os filmes do maior diretor espanhol da atualidade.